Confesso que quando menino pouco li Machado de Assis. Preferia José de Alencar que tinha quase parte de sua obra adaptada para os quadrinhos. Eram as "Edições Maravilhosas". Presente de meu pai que guardou os exemplares comprados no final da década de 40 e ao longo da de 50. Tinha de tudo. De Manuel Antônio de Almeida a Jorge Amado. De Lewis Carrol a Alexandre Dumas. A passagem para a obra completa.
Mas já que se falou no Seu Joaquim, escreveu o mestre conto considerando que a venda da consciência não é algo censurável.
Vender a consciência para retribuir este ou aquele apoio ou, ainda, visando interesse próprio - o que, bom que se diga, coisa que quase nunca acontece entre nós - seria algo normal para os que levam a sério o anjo caído machadiano.
Para Machado, em seu "A Igreja do Diabo", vender a consciência nunca poderia ser algo mal visto. E justificava: "A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo?"
Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara dos Deputados, apontado por ter exigido U$$ 5 milhões no escândalo da Petrobrás e de se valer de parlamentares de sua corriola para tentar embaralhar as investigações, ombreando-se com o banditismo dos governos petistas, desengavetou pedidos de impeachment e prometeu, nas entrelinhas, infernizar o Poder Executivo. Não fez o que fez antes por interesse pessoal. E isso, segundo o Código Penal, é prevaricação.
Pois é. Estamos de mal a pior. Uma é péssima e o outro é horrível. Pobre Brasil.