O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ontem que o delator da Operação Lava Jato, Julio Camargo, foi obrigado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a mentir no depoimento em que fala de suposto pagamento de propina de US$ 5 milhões em benefício do parlamentar. Alegou ainda que a delação "pode ter o Poder Executivo por trás".
"O delator foi obrigado a mentir. E acho muito estranho ser na véspera do pronunciamento (previsto para hoje em cadeia de rádio e TV) que estou citando e em uma semana em que a parte do Poder Executivo envolvido no cumprimento dos mandados judiciais tenha agido com aquela fanfarronice toda. Ou seja, há um objetivo claro de constranger o Poder Legislativo e que pode ter o Poder Executivo por trás em articulação com o procurador-geral da República", acusou Cunha.
Ele disse achar "estranho" que, num período de aprofundamento de discussão de um eventual pedido de impeachment contra Dilma, querem "constranger o Poder Legislativo". "Acho isso um absurdo e não vou aceitar ser constrangido."
Sobre o depoimento de Camargo, Cunha reiterou que se trata de "ilação" e que sua fala não traz nenhum fato concreto. "Essa delação que foi feita dele não existe. Ela é nula porque foi homologada por autoridade incompetente. Se eu faço parte da delação dele, não é o juiz que poderia homologá-la."
Acareação
Ele se dispôs a retornar à CPI da Petrobras para prestar esclarecimentos, se for necessário. Também se colocou à disposição para participar de acareação com o delator, que já foi convocado. "Eu faço olho no olho com quem quiser, não tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja. Quem não deve não teme. E ele está mentindo. E o delator tem que provar sua mentira. O ônus da prova é de quem acusa", afirmou.
Camargo detalhou em depoimento à Justiça Federal que o deputado tinha US$ 5 milhões a receber, de um total de US$ 10 milhões em propina, a serem pagos por dois contratos de navios-sondas para exploração de petróleo em águas profundas, assinados em 2006 e 2007, pela coreana Samsung em parceria com a japonesa Mitsui.
Camargo foi ouvido como réu no processo em que o ex-diretor de Internacional, Nestor Cerveró, e Fernando Baiano são acusados pelo recebimento de US$ 30 milhões na contratação dos dois navios.