A ONG Gerando Falcões é hoje uma referência no terceiro setor, e tem como elos com muitas das entidades que já foram entrevistadas pelo Café com Mogi News, com apoio da Padaria Tita, No episódio desta terça-feira (28), entrevistamos Bruno Desidério, líder social da ONG Gerando Falcões, que há aproximadamente sete anos responsável pela operação em Poá, onde tudo começou, e também pela sede em Ferraz de Vasconcelos. Casado, pai de Bernardo e Lana, cristão, ex-atleta profissional de futebol, Bruno contou que se identifica principalmente com o projeto Favela 3D, que busca transformar as favelas em territórios dignos, desenvolvidos e digitais. 

"Eu falo que o futebol foi a ferramenta que Deus escolheu para transformar a minha vida. A minha história se confunde com a Gerando Falcões. Eu conheço o Edu (Lyra), nosso fundador, desde a infância. A gente estudava  e jogava bola juntos, e nessas minhas investidas no futebol, o futebol me proporcionou jogar na Portuguesa de Desportos aos 11 anos, depois com 14 anos fui para Campinas jogar no Guarani, e fiquei lá por seis anos. Fui para seleção brasileira de base, e sempre voltava para Poá. Eu morava porta a porta com o Edu e a gente sempre conversava", contou Bruno. 

A ideia de impactar a vida das pessoas reuniu os amigos em torno do projeto, que começou com oficinas de futebol e cultural, ao lado de Lemaestro. "Ele (Edu) fez um convite mais sério: 'vem mudar o mundo comigo, e se a ente não mudar o mundo, vamos mudar o mundo de alguém", disse Bruno, e é o que eles têm feito nos últimos 12 anos, todos os dias a gente tem mudado o mundo de alguém.  Para ele, o primeiro mundo que mudou foi o seu, permitindo transbordar as transformações que Deus proporcionou.

O trabalho foi crescendo com o apoio de empresário como Jorge Paulo Lemann, fundador e presidente do Conselho da Fundação Lemann, e a "sacada" que não era necessário apenas pedir dinheiro para financiar os projetos, mas também apoio para que aprendessem sobre gestão. "Somos uma empresa do terceiro setor, com produtividade, fechamento mensal, todo mundo tem meta. A gente encara com muita seriedade o terceiro setor", destacou.  "Muitas pessoas que estão no trabalho social, e encara como lazer, é bom nos ajuda, mas a gente precisa de gente que trabalhe com profissionalismo, que eleve o nível do jogo", ressaltou. 

Crescimento

Com o crescimento da ONG, Bruno contou que Edu foi provocado a espalhar o trabalho pelo Brasil, e assim ele assumiu a operação em Poá, e depois fundo a sede em Ferraz, e começou um trabalho em Suzano que não teve continuidade. Com o tempo surgiu também a ideia de capacitar outros líderes sociais, e surgiu a alcons University, que recebe pessoas que assim como eles tinham no início, muito desejos, mas com poucos recursos. O curso tem duração de seis meses, com aulas sobre gestão, captação de recursos, lei de incentivo. A ideia é fazer maior e melhor do que já estava fazendo, segundo Bruno. Já foram capacitados quase 2 mil lideres, impactando quase 6 mil favelas pelo Brasil.  

Outra vertente do trabalho foi a criação do setor de inteligência emocional e qualificação profissional para os jovens, que acabavam abandonando a ONG depois de participar das oficinas de esporte e cultura. A partir daí, porém,, um outro desafio surgiu que foi a inserção dos jovens no mercado de trabalho. "Eles não passava pelo estereótipo e não pela capacidade técnica, era brecado antes da oportunidade", contou. Com um trabalho junto as empresas, 300 jovens foram empregados. 

Pandemia

A pandemia de Covid-19 mostrou que era preciso fazer mais, de acordo com Bruno. "Nosso trabalho era muito legal, mas raso, de alívio da pobreza. O Favela 3D começou na pandemia, um momento marcante para a Gerando Falcões. Se estava difícil para os grandes centros, para favela foi terrível", disse. Depois de uma conversa, Bruno contou que em dez dias, Edu voltou com a ideia do cartão cesta básica. "É um dos caras mais inteligentes que eu conheço, para o cartão a gente captou mais de R$ 100 milhões. Começamos a atender muitas famílias. Meu time todo mundo ficou home. Nosso slogan era 'é tempo de se cuidar e não de se esconder'. Não conseguiria dormir com a cabeça no travesseiro, eu tendo recurso e não fazer". Os cartões também contribuíram para fomentar o comércio local. 

Favela 3D

Nesse período surgiu o projeto Favela 3D, que tem como objetivo transformar todas as favelas em espaços dignos, desenvolvidos e digitais. O protótipo do projeto foi trabalhado nos últimos três anos, sendo liderado em Ferraz por Bruno, em São Jose´do Rio Preto por Amanda, em Maceió por LIzania, e no Rio de Janeiro, na favela da Providência, do Rio de Janeiro, a primeira do país, por Cíntia. "É um trabalho de combate sistêmico a pobreza, muito lindo de se fazer. Você para de dar demão de tinta e trata a parede com infiltração. A gente criou uma metodologia dentro do programa Decolagem com metas e sonhos para as famílias, e um grande diagnóstico comunitário dentro da favela para descobrir potências e desafios", explicou. 

Na mandala com oito pétalas do projeto construído em volta da família, abordando aspectos como urbanismo social, empoderamento feminino, acesso à saúde e à educação, primeira infância, geração de renda, cultura, esporte e lazer. "Um trabalho completo de erradicação à pobreza", disse Bruno. "Mexe comigo, porque a gente vê de fato as famílias quebrando um ciclo de pobreza. A gente sabe que a pobreza é multidimensional e geracional, não existe uma bala de prata. O músculo do corpo que mais dói é o bolso, e o Bolsa Família criou entrada boa, não somos contra, é necessário, mas é um alivio, não resolve, cria pessoas dependentes do auxilio, tem que ser um degrau e não um teto", complementou. O trabalho no Favela 3D inclui o estímulo a desenvolver metas e sonhos, com pequenos degraus, possíveis. 

Em Ferraz, Bruno conta que no diagnóstico feito com os moradores, mulheres e crianças, principalmente, apontaram que não havia um lugar que pudessem chamar de seu, e assim foi construída uma sede comunitária, com atendimento com assistente social, pedagogo, psicólogo, articulador social, e com espaço para resolução de conflitos, realização de oficinas, entre outras atividades. Outro desafio era o nome do local, conhecido como "Boca do Sapo', e em uma votação foi o escolhido o novo nome: 'Favela dos Sonhos". 

Na região, também foi feito um pacto de inclusão com empresas para inserção das pessoas no mercado de trabalho, qualifcando também a história de cada um nos currículos, mostrando outras qualificações que vão além da experiência formal, como a autodidata que aprendeu a construir observando o vizinho, e a especialidade com o obz - orçamento a base zero, e finalizando pedindo o apoio da empresa à Gerando Falcões com a contratação que ajudará a fazer do Brasil um país mais justo. 

ASMARA 

Ainda assim havia mulheres à margem, com dificuldade para ter alguém com deixar os filhos, e outros desafios como as egressas do sistema prisional, e Edu teve a ideia do projeto ASMARA, de as maravilhosas, incentivando mulheres a empreender e gerar renda. Elas passam por um processo e passam a vender no WhatsApp, para as amigas, peças que são doadas para o bazar do ONG (veja como doar no QR Code no vídeo). Até o final do ano, segundo Bruno, a meta é ter mais de 15 mil mulheres no projeto, colaborando para que recuperem a autoestima, saiam da depressão, vençam crenças limitantes e quebrem ciclos de violência.  "A gente não ta inventando a roda, só fazendo girar mais rápido", afirma. 

Para Bruno, o líder social é um "desarmador de bomba relógio", e tem que ter três habilidades, duas nascem com ele, e uma pode ser aprendida: coragem; amor, pois lidam com vidas, e conhecimento técnico se especializando. "´É muito importante quem grita, mas tanto ou mais quem senta na mesa e resolve, e traduz o grito do seu povo, da favela", disse. 

"A gente conectou muitas informações para a melhor solução de combate à pobreza, que é multigeracional. Meu pai cresceu na roça, foi para o Exército, veio para São Paulo tentar a vida, começou como porteiro, e terminou como chefe de segurança da Santa Casa. Eu fiz o ensino superior, o futebol me permitiu conhecer outros países, comando uma grande operação. Meu filho é o primeiro que cursa escola particular a vida inteira", contou Bruno, sobre os ciclos quebrados em sua família. 

Os planos para o futuro são muitos e Bruno antecipa que a Gerando Falcões tem sempre uma carta na manga. "Nosso grande plano é acabar com a pobreza das favelas antes de o Elon Musk colonizar Marte, tem muita coisa boa para acontecer. Parece utopia, mas para quem confia em Deus, nada é impossível", concluiu. 

Saiba mais sobre a Gerando Falcões nas redes sociais @geerandofalcoes e no site https://gerandofalcoes.com/,. Acompanhe também o Bruno no perfil @brunopoagf 


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