O novo episódio do Café com Mogi News desta terça-feira (31) entrevista a vice-prefeita de Salesópolis, Jane Magalhães. Ela foi servidora pública, e quando os três filhos eram pequenos decidiu se dedicar a eles, que hoje são adolescente. Atuante nos bastidores da política da cidade, ela abraçou a oportunidade de fazer parte da candidatura do prefeito Vanderlon Gomes, e ao longo do atual mandato, vem trabalhando ativamente pela população, tendo como um dos focos a questão da mulher. 

A vice-prefeita destaca os desafios e oportunidades para as mulheres na política e também os momentos de apreensão que passou com os pais que estavam em Israel quando a guerra começou no país. Saiba mais nesta entrevista especial, com apoio da Padaria Tita. 

Café com Mogi News: Conte um pouco de como você entrou na política, é o primeiro cargo que você ocupa?
Jane Magalhães:
Sim, é a primeira oportunidade e ela veio em um momento, para mim, de certa forma, um pouco inusitado. Sempre acompanhei a questão da vida pública, mas nos bastidores. Sempre fiz campanha, meu esposo (Marcelo) já foi vereador duas vezes, o pai dele também foi prefeito em Salesópolis, o ex-prefeito Quico, e nessas ocasiões em que o meu esposo esteve envolvido na política, eu trabalhei também. Então, a gente acompanha aquilo que era compartilhado por ele dentro de casa, alguns pontos que ele entendia que poderia estar dividindo comigo.

A questão da Jane vir, em 2020, como vice-prefeita na chapa do prefeito Vanderlon (Gomes), foi algo inusitado, porque era para ser meu esposo o candidato e ele seria o principal adversário do atual prefeito Vanderlon, mas houve um pequeno percalço, uma história um pouco longa, mas vou ser bem breve. Em 2012 aconteceu um episódio que o tornou inelegível em 2019. Para que ele não ficasse extremamente de fora do contexto político, houve uma construção do Partido Liberal (PL) e do Partido Social Democrático (PSD), ao qual estávamos filiados na época, para que pudéssemos apoiar o candidato Vanderlon e construir em cima disso uma oportunidade para que no futuro próximo ele seja candidato em Salesópolis.

Inicialmente foi isso, eu vim para ajudar o meu esposo nesse momento no qual ele não podia e para mim é um momento diferenciado. Uma coisa é você acompanhar de fora e saber bem superficialmente das coisas, e outra coisa é você estar dentro da gestão pública no dia a dia. Confesso que exige bastante.


CMN: Falando em exigir muito, como você concilia sua vida de política com a família?
Jane:
Eu costumo brincar que a mulher é empreendedora do lar, porque desde que o mundo é mundo nós fomos ensinadas a adotar este comportamento dentro de casa, no ambiente familiar, onde a gente aprende todos os cuidados com a casa. A minha mãe aplicou muito bem isso, para mim, minhas irmãs, e eu também procurei não perder isso de vista, porque eu também fui servidora municipal, eu era concursada da prefeitura, e por uma decisão minha, quando meus filhos ainda eram pequenos, eu decidi pedir demissão. Pedi as contas para me dedicar de verdade àquilo que eu sentia que era importante naquele momento, ser mãe e esposa, evidentemente. 

Quem trabalha fora sabe o tamanho da dificuldade que é, porque eu falava assim: 'eu trabalho fora, então quando eu chego em casa depois das 17h, eu sou mãe, eu sou do lar, esposa, e se eu tivesse tempo eu cuidaria de mim', o que normalmente não acontece muito no dia a dia. A gente tem coisas para fazer e você vai fazendo, fazendo, fazendo e quando você vê já passou o dia e você fala: 'e eu?', mas naquela ocasião eu achei que era de verdade muito importante estar ali, no ambiente familiar, e de certa forma permitir que os meus filhos tivessem essa estrutura também. Era o que Deus me chamava e eu entendi que era importante.

Hoje, acho que por eu ter permanecido bastante tempo nessa realidade de empreendedora do lar, eu não perdi esse vínculo. Graças a Deus, sendo vice-prefeita, eu consigo ter um pouco de flexibilidade, porque a função do vice-prefeito é representar o prefeito na ausência dele. Em alguns momentos, o prefeito Vanderlon acaba precisando, sim, mas a gente consegue conciliar.

Para mim, eu vejo que ainda é importante permanecer ali, não estou 100% como eu já estive antes. É uma realidade um pouco diferenciada, inclusive para Salesópolis, porque não tem um histórico concreto de vice-prefeito que acompanha a gestão pública tão perto como eu tenho feito. Foi feito até um gabinete para mim, dentro do Paço Municipal, e me senti priorizada, vamos dizer assim, pela administração, porque eu me coloquei à disposição da administração. 

Falei: 'bom, o prefeito precisando ou não eu vou permanecer no Paço à disposição para também atender os munícipes, dar aquele primeiro atendimento', porque às vezes as pessoas vão até a Prefeitura para resolver as suas questões, os seus problemas do dia a dia, pertinentes ao que envolve a administração pública.


CMN: Em uma cidade menor você tem uma proximidade maior, as pessoas se conhecem.
Jane:
Muito, lá em Salesópolis todo mundo é compadre, comadre, primo (risos), então tem muito isso. A gente vê que normalmente as pessoas estão carentes nesse sentido, de atenção e às vezes de respostas. Você nem sempre tem o seu problema solucionado de imediato, porque a burocracia também nos impede de resolver imediatamente, mas eu vejo que a população fica feliz de ter alguém ali que possa receber ela no primeiro momento, que a atenda, que explique, então eu tenho feito de certa forma esse papel que é meio que, às vezes, de apagar alguns incêndios.

É um dia de cada vez, mas é prazeroso, porque eu acho que faz muita falta, isso eu não falo só para Salesópolis, mogianos, paulistas, enfim. Eu acho extremamente necessário que as pessoas se interessassem um pouquinho pela questão da gestão pública. Não é do político, mas a gestão pública, o que o administrador faz. Eu falo porque Salesópolis, por exemplo, nós temos nove secretarias, são nove pastas, então o prefeito não faz a gestão de um único setor, são nove setores e esses nove eles têm que estar muito bem alinhados para que toda a gestão da cidade do município seja bem aplicada, e o serviço público seja prestado da forma que o cidadão merece.


CMN: Os trabalhos são, de certa forma, interligados, não é? A Educação vai trabalhar em conjunto com a Saúde em algum momento, a Assistência Social...
Jane:
Sim, está tudo interligado. O Desenvolvimento, com o Meio Ambiente, porque assim, uma acaba dependendo da outra como você falou. Então, às vezes estar lá também, na Prefeitura, e passar sucintamente para as pessoas sem alongar muito, como se dá todo esse trâmite, eu vejo que é importante, porque a gente ajuda a população a entender como que o administrador tem que desempenhar o seu papel. Nem tudo depende só do administrador, tem muitas coisas que ele também depende de outros setores, do Governo do Estado, do Governo Federal.


CMN: Às vezes tem essa confusão também, do que cabe à Prefeitura, o que cabe ao Estado, o que é da União.
Jane:
Exatamente, a gente também procura desprender esse tipo de atenção para que as pessoas entendam que a gente está, sim, buscando resolver da melhor forma possível, trabalhando para que o serviço público seja melhorado a cada dia, mas a gente também depende de terceiros.


CMN: Você falou da sua participação ativa, envolvida em várias ações da Prefeitura, mas o seu foco principal hoje é a mulher?
Jane:
Sim, a gente sente o quanto a mulher tem clamado para ser reconhecida, ser vista. Eu não estou falando isso porque eu sou feminista e não estou dizendo que eu sou contra o movimento. Isso é para que a gente entenda que hoje, no atual momento em que nós estamos vivendo, inseridas em uma realidade que avançou muito, tecnologicamente falando, a mulher se entende fora de muitas realidades.

Eu vejo que a gente sofre e falo isso porque eu também sinto. Eu penso que ainda há muito a ser conquistado nesse sentido. A mulher que é reconhecida não só porque ela faz muito bem o serviço da casa, mas porque ela também é inteligente e consegue se desenvolver muito bem dentro de uma Secretaria de Educação, de uma Secretaria da Saúde, de uma Secretaria de Desenvolvimento. Nós temos profissionais muito competentes lá em Salesópolis, na figura da mulher. O prefeito Vanderlon tem boa parte das secretarias geridas por mulheres.

Eu tenho buscado, através da Secretaria da Assistência Social, explorar um pouco mais essa questão em torno da mulher. A gente tem intenção de retomar o Conselho Municipal da Mulher, que ficou adormecido depois que a gente passou por essa questão da pandemia. Estamos encontrando algumas dificuldades para formar o Conselho, porque entendemos que é preciso explorar, mas também oferecer caminhos e projetos que ajudem a agregar na vida da mulher. A mulher, como eu falei, quer ter esse espaço, ela quer ser ouvida e eu acho que isso é muito importante, porque contrário a isso nós seremos deixadas de lado.


CMN: Você falou que teve uma agenda com a secretária do Estado.
Jane:
Sim, eu tive algumas oportunidades de estar com a secretária Sonaira Fernandes, que é a atual secretária da pasta de Políticas para Mulheres, uma secretaria nova que o Governo do Estado criou e que eu achei de suma importância, porque até então, estando no atual momento em que eu estou e muito antes disso, eu nunca tinha visto um governo que se preocupasse em focar especificamente na mulher. A Sonaira é uma mulher extremamente aberta e que busca muito defender a figura da mulher, enquanto empreendedora do lar, enquanto servidora municipal, em todos os aspectos.

A gente conversou bastante a respeito desses pontos, inclusive, ela esteve em Salesópolis em julho, levando para nós um pouco do projeto São Paulo Empreende Mulher que , através do Governo, a pessoa pode requerer um empréstimo para poder expandir seus negócios. Nesse momento, esse trabalho deles está voltado para quem é microempreendedor (ME), mas eu acredito que é uma porta muito grande que está se abrindo, porque como ela mesmo relatou, ela vem de uma história onde ela também trabalhou em casa para custear a sua faculdade.

Nós temos muitas mulheres empreendedoras em Salesópolis, a maioria é microempreendedora individual (MEI), mas a gente tem muitas mulheres que lutam todos os dias não só dentro dos seus lares, mas nos seus negócios. A Prefeitura, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tem desenvolvido muitas ações importantes, através do Sebrae Delas também, em que a gente consegue trazer as mulheres empreendedoras e a gente tem oferecido vários cursos para capacitação para que elas possam expandir melhor seus negócios.

A gente tem trabalhado bastante para que a gente consiga não só trazer a mulher para perto de nós, com todo o seu valor, com toda a sua dignidade, mas que nós possamos deixar elas entender o quanto nós estamos abertos a essa realidade.


CMN: Como você vê seu trabalho como vice-prefeita?
Jane:
Minha nossa, eu acho que você usou a palavra certa, é um desafio. Como eu disse, para mim foi uma novidade e eu ficava me perguntando se eu tinha perfil para isso, porque eu era conhecida como a mulher do vereador. Por Salesópolis ser muito pequena, todo mundo conhece todo mundo e de certa forma meu esposo sempre foi muito popular na cidade, por ter sido vereador, filho de prefeito.

As pessoas observam muito a gente, nós sentimos que há uma exposição muito grande. Então, quando eu vim para esse momento da vida pública, hoje eu não me sinto só política, eu me sinto alguém que também está responsável pela Gestão Pública. Toda semana a gente faz uma reunião pontual com todos os secretários, nas segundas-feiras, e às vezes eu coloco situações, por exemplo, das quais eu sou apontada na rua e acho eles ficam um pouco incomodados com as minhas observações, com os apontamentos que eu faço. Mas eu ando a pé, na cidade, na maioria das vezes as pessoas me param, questionam, perguntam, apontam o buraco na rua, falam da saúde, que está faltando isso, faltando aquilo, a gente precisa de muito jogo de cintura, muita paciência, principalmente para ouvir, porque em determinado momento eu percebo que as pessoas estão carentes nesse sentido. 

Na maioria das vezes, as pessoas que vão até a Prefeitura não vão só para resolver os seus problemas que norteiam a rua, a casa, a saúde, a educação. Elas querem ser ouvidas, há uma carência muito grande do ser humano em ser ouvido. Se não tem alguém ali para fazer esse primeiro elo, parece que elas saem muito mais aborrecidas do que quando chegaram.

Quando a gente quer resolver um problema, a gente quer que as pessoas nos escutem, porque tem uma diferença muito grande entre ouvir e escutar. Então, eu sempre tento trabalhar dessa forma. Para mim tem sido um desafio e como eu falei, no início eu me perguntava: 'será que eu realmente tenho perfil para viver essa realidade e atender as pessoas como elas gostariam de ser atendidas?'.

Eu tento trabalhar dessa forma, da forma de como eu gostaria de ser atendida em um determinado setor da Prefeitura. Às vezes algumas reclamações chegam nesse sentido de 'eu fui mal atendida', então a gente tenta entender os dois lados, porque o servidor também tem o seu momento, assim como eu sou humana de carne e osso, o servidor municipal também é, tem os seus problemas pessoais a gente evidentemente tenta deixar o que é de casa em casa e o que é do serviço fica no serviço, mas tem dias em que a gente não está tão bem. Todo mundo tem um dia ruim.

CMN: Mas aparentemente você está super bem, nesse caminho, e a sua intenção é continuar nessa vida pública? O que você pensa nas próximas eleições?
Jane:
Boa pergunta. Agora eu estou começando a trabalhar o meu emocional, principalmente, para esperar a vinda do meu esposo. Há uma grande probabilidade dele ser o candidato pelo PL para a sucessão do prefeito Vanderlon, então, às vezes eu fico pensando como que vai ser a vida nessa realidade, o meu esposo sendo prefeito e eu a primeira-dama.

Há um trabalho também que é desenvolvido através do Fundo Social de Solidariedade de Salesópolis, então assim, às vezes, são coisas que ficam passando pela minha cabeça, como que eu vou desenvolver o trabalho, porque ali a gente vê que são situações bem adversas, acaba atendendo famílias em situação de vulnerabilidade que passam já pela Secretaria da Assistência Social, mas que acaba dependendo de mais uma ajuda, então aí entra o papel do Fundo Social.

Eu com certeza não venho para o cenário político, enquanto candidata, mas acredito que vou estar bem atrelada acompanhando bem de perto, porque provavelmente o meu esposo vem como candidato.


CMN: E outros projetos para o futuro, você pensa em mais alguma coisa? Cabe mais alguma coisa nessa rotina?
Jane:
Nossa senhora, nada muito concreto nesse momento. Estou esperando Deus sinalizar para mim através de alguns acontecimentos, movimentos, que a gente também depende. O cenário político depende muito de outras questões, que envolve partido, outros grupos.

Você precisa ter uma base muito bem informada, sólida e um grupo que siga mais ou menos a sua linha de raciocínio para que outros trabalhos e aqueles que já estão implementados possam continuar. A minha visão hoje, Jane estando vice-prefeita, é o que eu falei para você, eu vou com certeza acompanhar algumas movimentações para ver também como eu vou acabar me posicionando nesse cenário.


CMN: De alguma forma não vai abandonar o dia a dia da cidade, vai estar sempre presente de alguma forma.
Jane:
Acredito que não (risos). Acredito que tudo concorra para que eu acabe fazendo parte dessa realidade.

CMN: Você falou mais no comecinho sobre sua ligação com a família, e a gente tem esse episódio recente da guerra em Israel. Seus pais estiveram lá, vieram naquele grupo de Salesópolis, que foi trazido pela Força Aérea Brasileira (FAB). Como foi isso para você?
Jane:
Então, na verdade foi um momento bem exclusivo da realidade do Caminho Neocatecumenal, também existe as comunidades aqui na cidade de Mogi. Em Salesópolis são cinco comunidades e depois de um determinado tempo de vivência em comunidade, conhecendo a palavra mais a fundo, porque são encontros semanais que acontecem, onde eles se reúnem, eles preparam a palavra, a liturgia, então depois de um longo período culmina com a peregrinação à terra santa.

Nesse momento, o mundo foi surpreendido por essa realidade que está acontecendo hoje em Israel e que eu considero grave, e ao mesmo tempo muito triste, porque a gente não está falando de Palestina ou de Israel, a gente está falando de vidas. Eu acho que a gente não pode esquecer que ali, independente do lado que estejam, a gente está falando de vidas. São pessoas e não mudamos o ser humano, continua sendo o mesmo independente da raça, religião, ainda somos a raça humana.

Os meus pais foram nessa peregrinação e no dia 7 de outubro ocorreu esse episódio, que não os pegou 100% desprevenidos, porque eles não estavam tão próximos do local onde ocorreu o primeiro atentado, que foi na Palestina, na Faixa de Gaza. Eu estou falando com um pouco de propriedade, porque eu já estive em Israel, então eu conheço, tenho lembranças de alguns lugares, e eles estavam em Belém. Providencialmente, o padre que os acompanhavam já tomou as devidas providências para que eles fossem transferidos e voltassem para o hotel.

CMN: Chegaram a ficar em um bunker?
Jane:
Não, eles voltaram para Jerusalém para ter um pouco mais de segurança, e depois de Jerusalém eles foram transferidos para Nazaré, em uma casa de convivência que os acolheu. A viagem de volta para o Brasil já estava prevista para o dia 11, mas conforme foram acontecendo os outros episódios após o dia 7. O Governo entendeu que os voos internacionais precisavam ser interrompidos pela questão de segurança das pessoas, dos cidadãos. Nisso, eles se viram em um momento um pouco mais aflito, porque até então a gente estava em uma tranquilidade muito grande.

Eu fui surpreendida na terça, na verdade, com um contato meio inusitado, pedindo, enquanto vice-prefeita e através dos nossos deputados, para tentar de alguma forma pedir que o Governo Federal olhasse com mais prioridade para todos esses cidadãos brasileiros que estão ali precisando desse retorno, porque a partir do momento que Israel declarou guerra, o Brasil teve que tomar providência, muitos brasileiros se dirigiram à Embaixada pedindo a repatriação.

Os turistas, naturalmente, teriam que voltar mesmo. O passaporte é carimbado com um período de permanência, é um visto temporário, então eles teriam que ser repatriados. Porém, a partir do momento que os brasileiros que estão em solo israelense se dirigiram à Embaixada pedindo a repatriação, incorporou todo mundo em uma coisa só, em um pacote só. 

Quando eu fui surpreendida com essa ligação. aquela tranquilidade, serenidade, ficou um pouco abalada, porque a partir daquele momento eles já não tinham contato nenhum com a agência que era responsável por eles no território israelense, e eles passaram a ser de fato propriedade total do Governo Federal. Eles entenderam também que estavam 100% nas mãos de Deus, porque nessas horas ou você tem fé ou você tem fé, não tem outra explicação. 

Nesse momento houve um trâmite, a gente acabou fazendo um ofício, e o prefeito Vanderlon também se dispôs a me ajudar, depois o deputado Márcio Alvino, e o deputado André do Prado, no sentido de viabilizar que esse ofício chegasse até o Itamaraty para o Governo ter esse olhar, priorizando mesmo os brasileiros, não só o grupo que estava em peregrinação, mas de certa forma os brasileiros. Eu acredito que cada município que entendeu que tinha um grupo de turistas lá também acabou tomando essa atitude.

O sentimento que permaneceu a partir daquele momento foi de esperança, porque a gente sabia que o Governo já tinha se levantado, posicionado na repatriação, e a gente só estava na expectativa de qual voo seria, mas graças a Deus eles estiveram no terceiro ou quarto que saiu de Israel na sexta-feira, foi um voo direto, sem escalas. Eles pousaram no Rio de Janeiro na madrugada de sexta para sábado seguros, muito bem cuidados. O Governo não dispensou cuidados, um zelo muito grande.

CMN: Eu vi uma entrevista de um pessoal de Sorocaba e a moça falou que o pessoal da FAB foi super gentil, que não tem uma estrutura de um voo que seria comum, mas que foram muito solícitos.
Jane:
Minha mãe usou as mesmas palavras, sobretudo com os idosos, porque, por exemplo, o grupo em que a minha mãe estava tinha 19 pessoas, e a maioria já passou dos 65 anos, tinha uma idosa de 84 anos. Minha mãe disse que de fato só faltava carregar no colo aqueles que tinham mais dificuldade para se locomover e tudo mais, mas ela falou que realmente o carinho, a atenção, o acolhimento, foi excepcional. O Brasil se posicionou de uma forma muito solícita para que eles voltassem com muita segurança e com muita tranquilidade para o país, graças a Deus.


CMN: Vamos terminar falando do papel da mulher na política, a gente vê poucas mulheres e chegarem em uma posição de vice-prefeita também é raro.
Jane:
É raro mesmo, em Salesópolis é a primeira vez que uma mulher ocupa o cargo no Executivo. A gente tem um histórico de algumas mulheres vereadoras, nós tivemos a vereadora Deise, a vereadora Sandra, hoje nós temos a vereadora Bruna, a Rebeca Barbosa, que é uma mulher trans, mas no Poder Executivo, na cadeira do Executivo, é a primeira vez.  Para mim foi um momento muito especial, fazer parte da Gestão Pública, são etapas. Então, foi a campanha, porque eu faço aquela campanha de porta em porta, é muita palminha. Nunca levei porta na cara, graças a Deus, e as pessoas sempre receberam a gente muito bem, e mesmo que tivesse algum episódio a gente tenta relevar, porque as pessoas têm direito de não querer receber.

Para mim foi um momento bem importante, marcante, porque até então eu não tinha me dado conta disso. Eu me dei conta no dia da posse, porque a responsável pelo cerimonial fez esse anúncio. Eu falei: 'nossa, primeira mulher em ocupar o cargo no Executivo, que peso', mas é o peso pelo fato de ser algo inédito em Salesópolis.
Foram várias situações, Vanderlon primeiro prefeito reeleito, a primeira mulher vice, o cargo no Executivo, e hoje eu entendo assim. Você disse da participação da mulher no âmbito político, parece que ainda estamos caminhando em passos lentos, mas é isso mesmo, e eu vejo que há uma necessidade das mulheres quererem entrar nesse espaço para elas poderem se posicionar, colaborar, porque a mulher tem esse perfil. Normalmente ela gosta de colaborar, ser participativa.


CMN: A gente acaba se desenvolvendo em muita coisa.
Jane:
Sim, eu vejo como algo extremamente importante, porque nós temos interpretações diferenciadas. Normalmente o homem é muito razão. Eu não sei se é porque eu sou coração demais. Eu conheço algumas mulheres em Salesópolis que são bem razão, sabem ser frias, e eu não estou criticando, mas tem aquela frieza, é mais racional e passa por tudo muito bem, eu falo: 'nossa, se fosse eu acho que já tinha desabado de chorar'.
Mas eu entendo que é extremamente importante a mulher vir e querer colaborar, mesmo que a gente entenda que a mulher tem pouco espaço, que a mulher quase não tem espaço. É natural do homem ele sentir mais apto em certas questões, mas mesmo assim, há uma grande possibilidade da gente também colaborar e se destacar também, parece que não, mas às vezes é bem pequeno o espaço, mas eu penso que esses pequenos colaboram muito e faz uma grande diferença na comunidade como um todo. Então, eu vejo que é extremamente positivo e eu defendo a participação sim de mulheres na política. 


CMN: Vai abrindo o caminho para outras mulheres e para outras gerações.
Jane:
Sim, para outras gerações, e eu digo: 'estude muito', é realmente valioso, o conhecimento não se perde. Todo conhecimento que você consegue absorver, a gente leva para a vida e em algum determinado momento você vai acabar lembrando e vai aplicar. Procure conhecer mais, isso não demanda estudo, demanda curiosidade. A curiosidade também abre muitas portas.

Hoje você vê que tem sim uma participação até que expressiva de mulheres na política. O governador Tarcísio fez isso, criando a Secretaria de Políticas para Mulheres, e eu achei isso excepcional, um grande ganho não só para São Paulo, enquanto cidade, mas ela vai cuidar do Estado, vai procurar explorar essa possibilidade que foi dada a ela de ter um olhar pelas mulheres do Estado de São Paulo.  Então penso que a gente tem sim, muita oportunidade, basta a gente querer aproveitá-las.