O Café com Mogi News, do dia 18 de julho (terça-feira), entrevista a coordenadora da Patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal (GCM) de Suzano, Jaqueline de Lima Ferreira. O programa que completa este ano nove anos de atuação no enfrentamento à violência contra a mulher e defesa da sua integridade, apresentou um balanço positivo com o índice zero de feminicídio entre as mais de 200 mulheres assistidas pela equipe.

Na entrevista do novo episódio do Café, com apoio da Padaria Tita, Jaqueline ressalta a importância de ter uma patrulha especializada nesse atendimento no município. “A Patrulha Maria da Penha é um diferencial de ter um atendimento mais humanizado. Então a gente consegue fazer o acompanhamento dessa mulher e criar uma relação com ela. Dentro da Guarda Municipal usamos a expressão ‘rapport’ que significa criar uma relação, uma conexão com a outra pessoa, que é aquela confiança que a mulher adquire”.

De acordo com a coordenadora a Patrulha tem um papel fundamental. “A gente acaba incentivando essa mulher a não voltar com o seu agressor, e sair do ciclo de violência. Existem três fases do ciclo de violência doméstica. Uma é quando a mulher efetivamente faz a denúncia e não quer mais voltar, a outra é quando há o caso de feminicídio, a terceira é quando acontece o falecimento do agressor. Rompe-se esse ciclo de violência, mas a gente precisa fortalecer essa mulher para que ela não volte”, destacou.

Segundo Jaqueline, muitas mulheres permanecem com os companheiros por dependência econômica. “Nesses casos, a gente busca mecanismo para ajudar, para inserir ela no mercado de trabalho. A prefeitura de Suzano, por exemplo, tem programas, como a Frente de Trabalho que dá preferência para a contratação dessas mulheres que possuem medida protetiva”.

Mogi News: Olá, estamos começando mais um Café com Mogi News e hoje a nossa entrevistada especial é a coordenadora da Patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal (GCM) de Suzano, Jaqueline de Lima Ferreira. Seja muito bem-vinda ao nosso café, é uma honra te receber aqui hoje!
Jaqueline:
Obrigada, eu que tenho que agradecer o convite. Eu falo que é muito importante esses bate-papos, essas informações, levar esse tipo de informação para a população, para as mulheres, para que elas se encorajem a denunciar. Eu agradeço o convite mais uma vez, de coração.

Mogi News: Então vamos começar falando um pouquinho sobre sua trajetória, sua carreira. Você sempre sonhou em estar assim, como GCM?
Jaqueline:
Olha, eu sempre gostei da carreira policial. Eu sempre pensei e desejei, a lei da atração, trabalhar na área policial. Então acabei entrando para GCM e depois de um tempo, eu entrei em 2010, depois de um tempo foi criada a Patrulha Maria da Penha em 2014. E aí eu comecei a trabalhar na Patrulha, na verdade já tinha a equipe formada, então eu supri, assim, a ausência das meninas, quando elas saiam de férias, e eu me apaixonei pelo trabalho. Então eu tinha muito, muito empenho, muita vontade de permanecer na Patrulha. E aí fiquei na Patrulha e quando foi em 2021 recebi o convite para assumir a coordenação do grupamento.
Estou tocando até hoje com a equipe maravilhosa. Eu falo que eu tive sorte de ter a equipe agora, nesse momento, que é uma equipe muito dedicada, muito empenhada, então a gente vem desenvolvendo um trabalho bem legal no município.

Mogi News: Certo, e desde quando que foi implantada na cidade a Patrulha?
Jaqueline:
A Patrulha está desde 2014. Caminho inverso de todos os municípios, a Patrulha veio primeiro, depois veio a Delegacia da Mulher e por último Anexo de Violência Doméstica, mas a GCM trouxe para o município primeiro a Patrulha.

Mogi News: E hoje, quantos profissionais que atuam na Patrulha?
Jaqueline:
Então, atuando diretamente nós temos seis no total, a gente divide em duas equipes. Cada um no plantão, e aí essas equipes fazem o acompanhamento de mulheres que possuem medida protetiva. No entanto, todo efetivo da Guarda Municipal ele é capacitado e preparado para atender casos de vítimas de violência doméstica e casos de flagrante delito, mas o acompanhamento dessas mulheres é feito pela equipe da Patrulha Maria da Penha.

Mogi News: Certo. E como funcionou essa capacitação do efetivo da Patrulha da Maria da Penha?
Jaqueline:
Então, todos os GCMs de Suzano são capacitados, eles recebem a capacitação, então a gente se capacita através de cursos. Eu, por exemplo, já tenho pós-graduação em Direito da Mulher, a gente está se capacitando em pós de Violência Contra as Mulheres, então a gente busca também se capacitar junto ao Tribunal de Justiça.
A própria Dra. Silmara, delegada titular da Delegacia da Mulher, também tem nos ajudado bastante, então através de nosso conhecimento a gente repassa para os GCMs, e no próprio curso de formação eles já têm conhecimento de como fazer o atendimento em caso de violência doméstica.
Então, a gente fala que todo o efetivo da Guarda Municipal está preparado, só que aí após a medida protetiva fica com a gente, que é do grupamento Patrulha Maria da Penha.

Mogi News: Certo, então fala um pouquinho sobre o fluxo de atendimento. Como que tem sido?
Jaqueline:
Então, para a medida protetiva chegar até nós da Patrulha Maria da Penha há necessidade de a mulher fazer a denúncia. Então, o primeiro passo é esse. Ela vai até a delegacia, hoje já contamos com o canal online, que é a delegacia online, que a mulher pode fazer a denúncia através desse canal. E aí, é encaminhado até o Anexo de Violência Doméstica para o município que tem.
Em Suzano já tem desde 2015 o Anexo de Violência Doméstica. Estou sabendo que aqui em Mogi também foi criado recentemente e é muito necessário, porque a gente tem uma celeridade nos processos. Então, essa medida, esse boletim de ocorrência é encaminhado por anexo, o juiz analisa também e consegue a medida protetiva. E aí que entra a Patrulha Maria da Penha, porque é encaminhada essas medidas para nós, nós fazemos o contato com essa mulher para verificar se essa medida está sendo respeitada. Então, caso não esteja, essa mulher entra no programa, a gente passa a fazer o acompanhamento dessa mulher nos locais de frequentação, em sua residência, no seu local de trabalho, para que esse agressor não volte a importuná-la.
Então a gente faz essas rondas, a gente pega os locais certinho de onde ela frequenta, onde ela mora, e aí a gente faz o Patrulhamento nesse local. Hoje a Patrulha acompanha mais de 200 mulheres. Para ser exato número 211 mulheres, nós estamos acompanhando.

Mogi News: Desde quando?
Jaqueline:
Não, que passou pelo programa já vai fazer um número exato, é quase quatro mil mulheres, ou seja, elas tiveram a medida protetiva, a gente foi até o local de residência dela ou elas foram até nós, e a gente ofereceu o trabalho, que são as rondas, e essas mulheres entraram no programa. Quatro mil mulheres. Mas hoje, em perigo de morte mesmo que continuam sendo ameaçadas mesmo com a medida protetiva, 211 mulheres.

Mogi News: Certo, e quais são essas ações desenvolvidas com essas mulheres? Qual é o trabalho feito para ter esse cuidado com elas após essas denúncias e esse trabalho que vocês têm feito?
Jaqueline:
Então, toda vez que a gente faz o contato com essa mulher a gente já orienta quais são os canais de atendimento que a Guarda Municipal tem. Hoje a gente dispõe, também, de um aplicativo, e esse aplicativo a gente tem verificado que realmente é eficaz tanto que nós já realizamos várias prisões através dele, e aí eu já vou falar um pouquinho como funciona esse aplicativo.
E aí nós temos os telefones e a gente faz um encaminhamento também dessas mulheres a programas que tem no município, que nem a gente tem o Creas, o Cras, a gente tem dessas mulheres que não têm nenhum familiar na cidade, por exemplo, a casa abrigo que vai abrigar essa mulher por um tempo, vai fazer o encaminhamento dela necessário, passar em atendimento médico, inserir essa mulher de novo no mercado de trabalho.
Então, a gente tem várias parcerias dentro do município que ajudam essa mulher a sair realmente desse ciclo de violência doméstica, sem contar, também, nas palestras que nós realizamos no município ou até fora do município. Nós já fomos convidados para capacitar o pessoal da Saúde de Ferraz, por exemplo, vem guardas de outro município aqui se capacitar também. Os municípios, as prefeituras, têm percebido o quanto é importante ter uma equipe para tratar desse tipo de situação.
Até postei nas minhas redes sociais esses tempos, eu realmente não queria que tivesse um agrupamento só para este tipo de situação. Acho que não deveria exigir esse tipo de crime, mas em razão dos casos que acontecem há necessidade. Há necessidade de ter um atendimento diferenciado, a gente fala um atendimento mais “humanizado”.
Então a gente tem, assim, na Delegacia da Mulher, o pessoal ali mais capaz, todos são capacitados, na verdade, mas a gente tem ali na Delegacia da Mulher um atendimento mais humanizado, a mulher se sente mais segura, mais à vontade de falar.
No grupamento Patrulha Maria da Penha a gente sempre tem uma mulher para fazer as entrevistas, porque a vítima se sente mais à vontade para falar das situações que ocorreram, porque num primeiro momento ali a gente está com um B.O dela - o Boletim de Ocorrência -, a gente verifica ali que é uma situação de ameaça, mas quando a gente começa a conversar, puxar o passado dessa mulher com esse agressor, a gente vê que ela sofreu todos os tipos de violência.
Já sofreu violência física, já sofreu violência patrimonial, às vezes violência sexual, e ela nem tem essa percepção, e aí na conversa a gente consegue tirar isso dela e a gente acaba inserindo ela nesses programas que têm no município, para ajudá-la.

Mogi News: Você comentou que essas mulheres às vezes sofrem vários abusos e elas não conseguem identificar isso. Como que elas devem identificar a violência, como que é a orientação para identificar?
Jaqueline:
Então, a violência que todo mundo, assim, a gente fala num consenso geral, que eles entendem, é a violência física, mas nós temos cinco tipos de violência que estão tipificadas como violência doméstica.
São violências que já existiam no código penal, mas elas se agravam quando ocorrem dentro do âmbito familiar. Então a gente tem ali lesão corporal, a gente tem a violência psicológica, que é tão grave quanto a violência corporal, física e a sexual.
Nós temos também a sexual, nós temos a patrimonial e a moral, então, cansei de ir nas palestras e elas falaram assim “eu pelo menos não apanho” e quando você começa a conversar você percebe que ela sofre uma violência patrimonial, porque ele quer ver celular dela, ele retém as coisas dela, por exemplo. A gente acompanhou uma mulher que com 39 anos, ela tinha 10 filhos, e aí quando você coloca para fazer uma análise de tipos de violência, você percebe que ela sofreu, porque ela falou “não, eu tive porque eu quis”, mas espera aí você quis? “Sim, porque ele não deixava eu tomar anticoncepcional”, por exemplo.
Então você percebe que aí é um tipo de violência também, porque a mulher é dona do próprio corpo, se ela não quiser ter filhos, se ela quiser tomar algum medicamento, se ela quiser evitar ter filhos, ela tem o direito. A partir do momento que o homem não permite é um tipo de violência.

Mogi News: Entendi. Você também comentou que outras patrulhas da região também recebem a capacitação ali junto com vocês. Suzano é uma referência?
Jaqueline:
Olha, graças a Deus nós começamos com muito empenho, dedicação e acabamos virando referência nacional, então antigamente quando era a coordenadora que hoje é a atual comandante, ela foi para Bahia para capacitar outros estados, outros municípios.
Desde que eu comecei a atuar como coordenadora, já capacitei 22 municípios. Então, vieram o pessoal de Joinville, Itajaí, todo o Alto Tietê é capacitado pela guarda de Suzano, porque nós fomos pioneiros aqui no estado, então a gente, como eu disse, veio até de antemão. Assim, na contramão do que se esperava, que é criar primeiro uma delegacia especializada e depois criar uma patrulha.
Não, a gente criou primeiro a patrulha, depois veio para o município toda aquela rede que a gente chama Rede de Apoio, que é a Delegacia da Mulher, o Anexo de Violência Doméstica.

Mogi News: Você tem um balanço de quantas prisões foram registradas de agressão doméstica ou descumprimento de medidas protetivas deste ano ou desde o início?
Jaqueline:
Este ano nós já realizamos 11 prisões. O ano passado todinho, que foi o maior número de prisões que nós realizamos, foram 14.
Neste ano a gente já está quase batendo o mesmo número. A gente fica entre a cruz e a espada. A gente fica feliz porque a gente tem visto que a gente realmente tem atendido, tem chegado rápido nas ocorrências, tem pedido que o homem realmente faça o pior para essa mulher. Então a gente tem chegado no local pegado o homem ali e conduzido para a delegacia, em flagrante mesmo, mas ao mesmo tempo a gente percebe que eles estão insistindo em desrespeitar, mas a gente tem mostrado que a Patrulha Maria da Penha está em cima, tá fazendo acompanhamento e tá de olho. E a gente fala também que o aplicativo tem ajudado bastante nesses casos.
Não sei se eu posso estar falando agora do aplicativo. Quando nós fazemos a visita para essa mulher, para saber se a medida está sendo respeitada, se está tudo ok, aquela mulher que ainda continua sendo ameaçada e quer o acompanhamento, ela solicita as rondas e nós fazemos a instalação do aplicativo no seu celular.
Então, quando a mulher fala assim “aí, está me agredindo, eu vou ligar para a polícia” a primeira coisa que o agressor faz é retirar o aparelho dela. Então, esse aplicativo é muito simples. Ele tem um botão lá que você pode – o pessoal chama de ‘botão do pânico’ -, enfim, você aciona esse botão amarelo que vai nos indicar a localidade dessa mulher.
Manda exatamente o local onde ela está, em qualquer local do município onde ela estiver, ela vai acionar esse botão amarelo e a gente vai de encontro a ela. Então não precisa ligar, não precisa falar nada, só apertar o botão, ele não vai nem perceber que ela está acionando.

Mogi News: Então, esse atendimento é específico para as mulheres que já são atendidas pela Patrulha Maria?
Jaqueline:
Já são atendidos. Esse aplicativo é muito parecido com SOS mulher.
No estado de São Paulo tem o SOS mulher, que é o da Polícia Militar, que eles também instalam. Então, quando a mulher esta precisando acionar a Polícia Militar ou GCM, ela faz o acionamento pelo aplicativo e as viaturas vão até o local.
Esse aplicativo é só instalado nos celulares das mulheres que têm a medida protetiva.

Mogi News: Jaqueline, você comentou também que o número de casos, de prisões, está quase que está chegando do mesmo da quantidade do ano passado e a gente não está nem no meio do ano ainda, praticamente. Você acha que a violência contra a mulher cresceu nesses últimos anos?
Jaqueline:
Olha, eu não digo que a violência cresceu, a violência sempre existiu. O que a gente tem notado é que as mulheres têm se encorajado a denunciar, por isso que é importante esses canais de informação para a gente estar levando informação para essas mulheres, explicando para ela que no município existe meios para ajudá-la.
Então, o que eu percebo, assim, as mulheres elas estão se encorajando, elas estão indo até a delegacia, denunciando, e estão querendo realmente sair do ciclo de violência. Quando a gente faz a entrevista com ela, tem esse primeiro contato, a gente pergunta para ela “é a primeira vez que acontece? ”, e por incrível que pareça, a gente recebe informação “não, já tem 15 anos que eu vivo isso”, “já tem 10 anos”.
Então a gente sabe, já até conversando com os meus colegas eu expliquei para eles que já existe uma pesquisa que fala que a mulher leva em média sete anos para denunciar. Então ela vive esse tempo, a gente precisa destruir aquele mito de “ela gosta de apanhar”. Não, não gosta. A gente precisa entender o que que tem levado essa mulher a conviver com esse agressor.
Às vezes um medo, às vezes por questões de filhos, às vezes dependência financeira, a gente tem a dependência emocional que eu acho que é mais difícil ainda, porque você precisa explicar para ela “olha, você precisa se livrar dessa dependência, você precisa realmente sair”, e se ela não quiser, infelizmente não tem o que fazer. Precisa partir dela essa consciência.

Mogi News: Certo. E no caso de quando essas mulheres já são assistidas pela Patrulha Maria da Penha, elas acionam o botão, como que é feita a abordagem nesse local que elas estão?
Jaqueline:
Então, se é encontrado os dois no local, nós conduzimos as partes até a delegacia onde é apresentado para o delegado de plantão sobre o descumprimento da medida protetiva.
Em caso de contato, o primeiro contato, no caso, para entrevista, para saber como ‘tá’ a situação, a gente fala que o atendimento nunca é julgando. A gente precisa sempre ouvi-la e ter aquela escuta qualificada. Ouvir e passar todo tipo de informação que ela precisa, quais os mecanismos que o município dispõe. Então, se ela faz a solicitação, por exemplo, a gente vai até ela, verifica o que está acontecendo, a gente orienta.
Se ele acabou de sair e a gente não consegue encontrá-lo, por exemplo, a gente orienta, reforça, precisa comunicar a delegacia que houve o descumprimento. Eu faço através do ofício, também, o comunicado para o Tribunal de Justiça de que houve o descumprimento, só que não houve a condução, porque ele já não estava mais no local. Então, o atendimento que a gente tem que fazer com essa mulher é o mais humanizado possível.
Além dos acompanhamentos, a gente acompanha essa mulher em retiradas de pertence, por exemplo, quando ela precisa sair da casa, e aí ela não tem como voltar ali sozinha para pegar suas coisas.
A gente faz o encaminhamento dela para a Casa Abrigo também, inclusive, no município a gente tem a Casa Abrigo também, é uma casa sigilosa. Então, a população sabe que o município dispõe desse abrigo, mas o encaminhamento é feito sempre pela Patrulha Maria da Penha para resguardar a segurança dessa mulher. Imagina se o agressor descobre onde ela está ficando e vai até o local?! Aí não passa mais a ser um local seguro, então é todo esse translado, buscar as coisas dela com os filhos e levar até o abrigo, todo esse trabalho é feito pela Patrulha Maria da Penha.

Mogi News: Quais são as iniciativas de combate à violência contra a mulher no município?
Jaqueline:
No município, a gente tem parceria com o Tribunal de Justiça, parceria até mesmo com a Secretaria de Educação, que a gente leva informação através de palestras nas escolas. A gente faz acompanhamento dessa mulher até mesmo para fazer o acompanhamento médico em audiências. Todo esse apoio que a gente dá para essa vítima, para essa mulher.
Então, ela precisa resolver várias questões, por exemplo, a medida protetiva é um ponto, mas ela precisa resolver questões de partilha, de divórcio, até mesmo de guarda dos filhos, porque os homens insistem em se aproximar sob aquela desculpa “quero ver meu filho”. Ele vai até o local de residência sobre essa alegação, então a gente encaminha essa mulher para o Poder Judiciário, OAB. Nos municípios que têm Defensoria Pública é feito o encaminhamento para lá, para que ela possa buscar ajuda e resolver toda a situação dela.

Mogi News: Jaqueline, na sua opinião, qual é a importância de ter uma patrulha especializada nesse atendimento?
Jaqueline:
Olha, eu tenho notado que os municípios estão investindo muito na Patrulha Maria da Penha, porque a Patrulha Maria da Penha é um diferencial de ter um atendimento mais humanizado. Então a gente consegue fazer o acompanhamento dessa mulher, a gente cria uma relação. Dentro da Guarda Municipal a gente fala que é um ‘rapport’ (uma expressão que significa “criar uma relação”, e resume muito bem o propósito desse conceito. A ideia, na prática, é estabelecer uma conexão com a outra pessoa), que é aquela confiança que a mulher adquire.
A gente acaba incentivando essa mulher a não voltar com o seu agressor, a sair do ciclo de violência, porque o ciclo a gente fala, a gente não consegue encerrar ele. Tem três fases do ciclo de violência doméstica, e aí a gente fala que encerra através de três situações.
Uma é quando a mulher efetivamente faz a denúncia e não quer mais voltar, a outra é quando há o caso de feminicídio, a terceira é quando acontece o falecimento do agressor. Rompe-se esse ciclo de violência, mas a gente precisa estar fortalecendo essa mulher para que ela não volte.
Então assim, se ela tem uma dependência econômica, por exemplo, desse agressor, a gente busca mecanismo para ajudar, para inserir ela no mercado de trabalho. A prefeitura de Suzano, por exemplo, tem programas, como a Frente de Trabalho que dá preferência para a contratação dessas mulheres que possuem medida protetiva. A gente insere ela no mercado de trabalho e ela se sente mais fortalecida a manter mesmo, a sair desse ciclo de violência.

Mogi News: Acho que é importante a gente falar dos canais que essas mulheres podem fazer a denúncia.
Jaqueline:
No município de Suzano, nós temos o aplicativo, que já foi falado, que é o ‘Está Acontecendo’. Lá remete também ao WhatsApp, que pode conversar com a Patrulha Maria da Penha.
Nós temos o (11) 4745-2150, que é o canal de acionamento de denúncia para a Patrulha Maria da Penha ou até mesmo para a Guarda Municipal. Trabalhamos integrado com a Polícia Militar, então tem 190, tem um canal nacional também, que é o 180. Temos, ainda, a possibilidade de fazer a denúncia através do boletim online, que dentre as coisas horríveis que aconteceram na pandemia pensaram-se nessas mulheres que ficaram dentro de suas casas, com os seus agressores, sem poder sair para denunciar, então foi criado esse canal e perpetuou.
Tem ajudado as mulheres a denunciar, sem precisar, efetivamente, ir até a delegacia para realizar o Boletim de Ocorrência. Mas ressaltando que os casos de lesão corporal e violência sexual há necessidade de ir até a delegacia, porque é realizado, para quem sofreu violência de lesão corporal, o exame de corpo delito, atendimento médico.
Da violência sexual é feito toda aquela ajuda no âmbito da saúde que há necessidade. O atendimento dela para questões do abuso sexual.

Mogi News: Jaqueline, muito obrigada pela sua participação hoje aqui, falando do assunto tão importante que a gente precisa ressaltar mesmo para a população, para as mulheres, que elas precisam tomar essa atitude de coragem para denunciar.
Jaqueline:
Isso mesmo. Eu que agradeço a oportunidade de estar aqui, eu falo que para combater violência doméstica é fácil, Aline.  São duas vertentes, que aí eu vou contar o segredo aqui agora, eu vou aproveitar a oportunidade para contar o segredo.
A primeira delas são as Políticas Públicas. Eu vou agradecer imensamente aqui, inclusive, o prefeito Rodrigo Ashiuchi, o quanto ele tem criado Políticas Públicas no município, o quanto tem incentivado ao combate de violência doméstica na cidade e isso é muito importante. Políticas Públicas são uma das vertentes para o combate à violência doméstica.
O Rodrigo Ashiuchi, nosso prefeito, tem feito isso com muita magnitude, com muito empenho. Agradecer também a primeira-dama, porque a gente sabe o quanto ela é empenhada nas questões sociais e isso inclui as mulheres vítimas de violência doméstica.
A gente sabe o quanto é importante ter mulheres tão empoderadas como ela, brigando na causa porque com certeza é uma causa que você tem que brigar constantemente, lutar por ela. Agradecer também ao nosso secretário Afrânio Evaristo, pelo quanto ele tem se dedicado pela nossa secretaria, inclusive com a Patrulha Maria da Penha, ele tem visto com outros olhos, visto o quanto a gente tem se empenhado.
Na gestão do secretário a gente teve o êxito de ganhar e receber, porque ele percebeu o quanto era necessário a população enxergar e verificar “olha, essa equipe é da Patrulha Maria da Penha”. Então, foi na gestão dele que a gente conseguiu alcançar o braçal, que hoje nós usamos o braçal da Patrulha Maria da Penha, e a boina que qualquer um (da população) que estiver na rua e verificar, consegue identificar que nós somos agentes da Patrulha Maria da Penha.
A mulher se sente incentivada. “Tem alguém ali que é capacitado para resolver minha situação. Vou falar a situação da minha vizinha, da minha família”, e ela se sente realmente mais à vontade para fazer esse contato com a gente. Então, agradecer a imensamente o investimento que tem feito na patrulha.
A outra vertente é conscientização. É isso aqui, a gente levar a informação, levar para as pessoas, explicar para as mulheres quais tipos de violência existem, porque não é só a violência física, e levar para os homens também que hoje não é mais admitido qualquer tipo de violência contra mulher.
Se há questões de lá de trás “meu pai, eu aprendi assim”, então tem que mudar. No direito a gente fala assim. Eu gostaria realmente que os homens conscientizassem e entendessem “é melhor eu viver num lar harmonioso, no lar de amor”, mas se eu não puder respeitar dessa forma a gente fala “dura lex, sed lex”, a lei é dura, mas é a lei, e então que seja respeitada.
Espero que todo mundo se conscientize que violência doméstica só prejudica a família, as crianças, porque as crianças são vítimas secundárias, elas estão presenciando. Ali estácriando um perfil dessa criança, então viver num lar harmonioso é o caminho, a gente precisa conscientizar as pessoas.
Essa é outra vertente. É um pouco mais difícil, que aí torna difícil, mas o caminho é esse, então eu agradeço o convite e sempre que puder eu vou estar levando informação sobre violência doméstica com base de violência doméstica para a gente encerrar esse ciclo aí. Obrigada.

Mogi News: Eu que agradeço. Esse e outros episódios do Café com Mogi News você acompanha no nosso portal que é o www.portalnews.com.br. Até a próxima.