O Café com Mogi News desta terça-feira, 6, entrevista Glauco Ricciele, diretor do Departamento de Arquivo Histórico da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Mogi das Cruzes. No espisódio de hoje, Glauco fala sobre sua trajetória como historiador e sua inspiração de carreira, além de contar um pouco sobre a história e as principais tradições da cidade.
Na entrevista do Café, com apoio da Padaria Tita, Glauco também ressalta a importância da preservação do patrimônio histórico da cidade. "Estamos em um momento em que o Comphap (Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico) está completando 20 anos. Nesse olhar, temos então uma cidade que está estabilizada, se o Comphap não tivesse feito um bom trabalho há 20 anos, teríamos perdido muito mais coisas do patrimônio. Precisamos fazer muito mais, mas acho que estamos no caminho para conseguir cada vez mais criar ferramentas para auxiliar tanto um proprietário que tem um bem tombado, quanto só para guardar um bem importante para a história da cidade", afirmou.
A segunda parte da entrevista será publicada amanhã, 7, às 10 horas, também no formato texto e vídeo.
Café como Mogi News
CMN: Estamos começando mais um episódio do café com Mogi News, e hoje nós vamos falar com Glauco Ricciele, que é diretor do departamento de arquivo histórico da secretaria de cultura da prefeitura de Mogi das Cruzes. Seja muito bem vindo Glauco.
Glauco Ricciele: Obrigado!
CMN: Vamos começar falando um pouquinho você é historiador, pesquisador, o que inspirou nessa carreira, por que você escolheu história como profissão ? sua trajetória.
Glauco Ricciele: Então, desde garoto sempre gostei muito de história e de conversar com pessoas, cresci sendo criado pelos meus avós, minha mãe trabalhava muito desde pequeno e meu pai também, na maior parte do dia ficava com avós. Sempre tinha aquelas histórias que contavam isso, aflorou demais o gosto pela história de Mogi das Cruzes, então eu sempre gostei demais desde garoto, eu vinha guardando foto da cidade, vinha coletando dados sobre a cidade de mogi e tendo esse momento de conhecimento de conexão com a cidade. Eu cresci entre dois bairros que é a Vila Industrial e o São João dois bairros tradicionais, e também é aquela coisa da cidade minha família tem uma ligação forte com o Mauricio de Souza, meu tio é o cebolinha da Turma da Mônica, ele tinha uma ideia de “a o Maurício os avós do Mauricio mora perto de casa na mesma calçada”. Então a gente tem esse relação com a cidade e dessa relação um pouco com o imaginário de mogi com a Turma da Mônica, muitas emoções naquele início de infância muitas lembranças e os bairros sempre gostei de conversar com os vizinhos, conversava na oficina mecânica e sempre aprendia muito, não sabia a profissão que eu ia seguir mas sempre era uma forma de aprendizado, e na escola sempre tinha gincana sobre a história de mogi, e nas gincanas eu sempre me dava muito bem porque conseguia pontuar, e nisso procurava mais coisas a gente ia no museu, que ficava na prefeitura, o museu ficava na prefeitura onde hoje é o gabinete do prefeito e ali naquela época foi muito importante para a formação. E quando eu optei na graduação de fazer eu optei por história eu já tinha uma familiaridade muito grande, eu gosto também de filmar, fotografar, edição de vídeo mas aí eu falei “eu vou enveredar para esse lado “ tentar fazer pesquisa e a docência mas no princípio mais a docencia , a pesquisa eu fiquei como segundo plano, o brasil não dá infelizmente dinheiro pra gente trabalhar só pesquisa, então eu tive que ir para a sala de aula trabalhar, como professor ministrando aulas e em paralelo sempre tive a pesquisa do meu lado, então a gente foi sempre aflorando, foi muito importante.
CMN: Fala um pouquinho sobre seu livro, quais seus projetos que você tem de Mogi das Cruzes, tem um livro que você lançou né tem pouco tempo, conta um pouquinho sobre ele.
Glauco Ricciele: Então, o 150 anos do Cemitério São Salvador : Decesso na Terra das Cruzes, esse livro ele foi gestado de uma maneira muito importante, foi algo de 10 anos de construção de pesquisas que aqui em mogi eu fui a primeira pessoa a trabalhar esse nicho da necrohistoria, que é a história da morte é um tema que pouca gente gosta de trabalhar, conversar até em sociedade, porque é um grande tabu ainda a morte e os espaços sectoriais também tem essa relação muito complexa, e ai vim pesquisando fazendo muita foto coletando dados até que cheguei no ano 2000, com o material todo pronto eu precisava 2020 né precisava pensar em publicar, aí eu falei “não vamos publicar que é importante”, e daí eu consegui em 2021 no meio dessa pandemia toda, tanto que eu tive que refazer o livro em aspecto, eu coloquei um capítulo do livro sobre a pandemia, passei um dia inteiro no cemitério acompanhando em maio de 2020 os enterros de covid e passei um dia inteiro na funerária acompanhando a arrumação daquele caixão lacrado alguns momentos, e outros diretamente da funerária para o cemitério e outros quando tinha o velório que não era de covid em alguns casos era um velório 3 a 4 horas, então esse dia foi bem complexo porque passar o dia dentro da funerária de mogi com todos aquiles corpos passando aquele dia foi bem diferente uma emoção uma forma que eu nem imaginava passar e entender a fragilidade que tem os funcionarios que trabalham com morte que são muitas das vezes invisveis em sociedade, e esses foram os locais duas pontas que eu conseguia alinhavar, o livro tem uma construção vem da historia da morte no mundo puxando pro Brasil chegando até mogi então vem do macro pro micro e fecha na pandemia, mas foi um estudo muito complexo que até hoje desdobra muito. Infelizmente esgotou é preciso fazer outra edição, todo mundo que leu gostou demais e ainda dá para fazer mais edições para o pessoal conhecer mais história.
CMN: E é uns dos pontos mais conhecidos de mogi faz parte da história da cidade, mogi é uma cidade bastante antiga uma das mais antigas do país, fala um pouquinho sobre a história de mogi, sobre o nome.
Glauco Ricciele: Então, Mogi das Cruzes é umas das 10 cidades mães do Brasil,ela foi basicamente elevada a vila logo ali no comecinho do século 17, com isso né o próprio nome Mogi que vem de Boigy que era cobra d’agua ou porque tinha muita falsa coral no rio tietê ou porque o rio tietê mesmo é muito sinuoso, ali parece uma grande cobra então basicamente nós temos essa relação do nome que vem evoluindo do Boigy, evolui para M’Boigy e depois para Mogy, e Mogy com G e Y. Quando foi fundado por Gaspar Vaz em 1611 a cidade ela basicamente passa a se chamar vila Sant'Anna de Mogy Mirim, Santa Anna pela questão da do próprio padroeira da cidade ter ali a relação com Gaspar Vaz, era a Santa padroeira dele também que ele coloca como Santa principal da cidade e o das Cruzes aparece depois né, o Santa cai e fica Mogi das Cruzes, principalmente para afugentar forasteiros, o mogi tinha um jeito muito peculiar de espalhar cruzes nas pontas do terreno dele, então para preservar o terreno porque aí o invasor tem medo por ser cemitério era terra de marlboro não vou plantar não vou morar e eu consigo afugentar as pessoas que invadiam terra, então essa mogi chegava aqui tinha várias cruzes e ficou muito conhecido por Mogi das Cruzes. E com o tempo a cidade foi evoluindo uma cidade que sempre foi muito pobre, mogi nunca foi como nós temos hoje uma cidade arquitetônica com Paraty como Ouro Preto, ela foi uma cidade colonial pobre do interior paulista hoje região metropolitana, mas que veio com um tempo, com o século 20 trouxe pra ela um momento maior de evolução, companhia Coordenação Geral do Brasil quando ela está em 47 ela consegue trazer um pouco mais de desenvolvimento para cidade da um crescimento enorme e hoje nós temos uma crise, a cidade não precisa crescer acho que ela precisa hoje se desenvolver é bem diferente.
CMN: É a cidade é enorme, Mogi das cruzes tem um território muito grande e a gente também tem a parte ali do centro que as ruas são bem estreitinhas, você pode contar um pouquinho sobre essa história da parte da criação ali do centro da cidade?
Glauco Riccilee: Sim, então só pra voltar dimensão, mogi quando mogi era de Gaspar Vaz mogi colonial ainda pra ter uma ideia mogi ia da Penha de São Paulo até Monteiro Lobato do Vale Paraíba, da serra da Mantiqueira até a serra do mar tudo isso era mogi, a atual mogi hoje vai do Parateí no Guanabara ali até o Quatinga em Taquarussu, dá basicamente 80 km, e de ponta a ponta de Sabaúna até Suzano divisa mais 27 km, uma cidade grande se você for sair de ponta ponta em horário de pico você leva quase 2h30 então tem essa complexidade. E o centro histórico ele ficou marcado como centro histórico partir do tombamento da igreja do Carmo, e isso acontece no final dos anos 70 pros anos 80 quando todo esse complexo terminar o restauro, o tombamento começa lá nos anos 60 da processo, então existe um raio de 300 metros da igreja do Carmo onde não se pode construir nada acima de 7 metros de gabarito, então é o gabarito máximo a partir dali nós temos alguns prédios preservados mas ao longo do tempo infelizmente por incêndio por algumas questões alguns prédios desabaram e logo outros conseguiram ser preservados, mas nos perdemos demais ao decorrer dos últimos 40 50 anos muitos lugares importantes do centro da cidade referências eu falo que o patrimônio nos se resume apenas aos prédios o patrimônio histórico também tem o viés do mobiliário que também é uma relação de bem material e os bens imateriais são os hábitos de costumes o modo de cozinhar, uma dança, as histórias então tudo isso está dentro do arcabouço do patrimônio cultural e histórico e nos abrimos várias possibilidades de estudos e de retomada. Exemplo: a gente começa pela festa do divino e o divino tem ali dentro de todo seu nicho gastronômico pratos, o único prato tombado é o afogado a gente pode tombar o tortinho,o churrasco, 7 dons e o feitio dos doces, que nós fazemos doces em mogi em tacho de cobre e fogão a lenha então o jeito de se fazer um doce impacta no gosto, diferente do fogão a gás então tudo isso da coloração, gosto e um aspecto mais interiorano tradicional rural, que nós temos na nossa cidade ainda na região metropolitana mogi tem essa característica dúbia de ser ainda um pouco metrópole e um pouco interior, ela ta no meio termo.
CMN: Então a gente está falando desses patrimônios históricos né, fala pra gente quais são os principais aqui da cidade.
Glauco Ricciele: A edificação do principal é o complexo do carmo as duas igrejas a ordem primeira e a ordem terceira do carmo e o antigo convento, ali é o coração é o centro de tudo, depois nós temos monumentos, depois nós temos o casarão biomart, depois o casarão do chá, vários pontos a própria cruz dos século que tá lá na serra de itapeti, não sendo mais a originária mas sendo uma dos anos 50 tudo indica, também é um patrimônio, dos patrimônios naturais a serra do mar, a serra do itapeti também são dois pontos, a gruta de santa terezinha. O mogiano ainda está descobrindo muitas coisas então com trabalho de pesquisa legal que eu consigo levar algumas coisas para as pessoas enxergarem que mogi tem um potencial, varios outras pessoas já fazem isso também com os seus grupos coletivos ou trabalhos individuais, mas é importante que todos nós juntos unidos, conseguimos mostrar uma mogi que ta invisivel parar parcela da sociedade e através do projeto através de programas e políticas públicas a gente consegue fazer e deixar um legado importante pra cidade.
A segunda parte da entrevista será publicada amanhã, 7, às 10 horas, também no formato texto e vídeo.