O segundo episódio da nova temporada do Café com Mogi News traz a segunda parte da entrevista especial com a vice-prefeita de Mogi das Cruzes, Priscila Yamagami. O bate-papo, gravado na semana passada, foi dividido em duas partes e a primeira, focando em sua trajetória, foi publicada na terça-feira. Nesta quinta, a segunda parte do bate-papo destacando os projetos da atual gestão.

Entre os projetos em andamento, o Mogi 500 Anos que reúne diferentes setores para pensar o futuro da cidade. “Ele é a essência do que a gente veio fazer, é o legado que a gente quer deixar para muito além de ciclos de quatro em quatro anos, independente do governo que seja, que as políticas públicas permaneçam, e que as pessoas sintam o menos possível essa questão da troca partidária”, disse Priscila.

Também com foco no futuro o projeto Mogi Cidade da Criança. “É justamente trabalhar para esse futuro. É a gente investir em todo o segmento, mas em especial na criança, porque a gente vai colher esse fruto muito em breve”, ressaltou a vice-prefeita. Leia mais na segunda parte da entrevista especial.

Café com Mogi News: A gente tem o projeto Mogi 500 Anos, pensando no futuro da cidade. Conta um pouco pra gente sobre essa iniciativa.
Priscila Yamagami: Eu acho que o Mogi 500 Anos, a gente precisa ecoar nos quatro cantos da cidade, da região, e até para outras cidades. Hoje o prefeito (Caio Cunha) é o presidente do Condemat, que é o nosso consórcio do Alto Tietê, e a gente é um conglomerado de cidades que tem que trocar expertise. O Mogi 500 Anos é a essência do que veio fazer, é o legado que a gente quer deixar para muito além de ciclos de quatro em quatro anos, independente do governo que seja, que as políticas públicas permaneçam, e que as pessoas sintam o menos possível essa questão da troca partidária. E trazer as pessoas para o diálogo também. Exatamente, tentar trazer para participarem, para opinarem, para sugerirem e qualificar cada vez mais esta participação.

O significado do Mogi 500 Anos é hoje o Mogi Cidade da Criança, porque se a gente investir na criança, não que você não vá investir no jovem, na maturidade ou até no idoso, mas investindo na criança é um legado que a gente vai colher para os próximos anos. A gente fala muito dos próximos 38 anos, quando Mogi vai fazer 500 anos, então é trabalhar o hoje e eu sinto isso muito forte, porque eu estou há 20 anos na área acadêmica, e hoje meus alunos são fruto do que a gente plantou lá atrás, eu e os professores, os gestores das faculdades e das escolas, que eles passaram, e a família, então essa grande parceria forma um ser, que é um ser bacana para esta humanidade que precisa tanto.

Eu vejo o Mogi 500 Anos como o foco do nosso governo. Ele é um projeto multidisciplinar, que envolve todas as secretarias, pensando a longo prazo, indo além destes ciclos políticos que rompem com as políticas públicas e as pessoas acabam ficando descrentes da política em geral. Quando a gente deixa um legado como o Mogi 500 Anos, as pessoas conseguem seguir uma progressão política, porque elas podem mesmo usufruir das políticas públicas. Então para nós, é a essência do nosso projeto. A gente se inspirou em Recife, que faz esse tipo de projeto. Quando você coloca todos os autores da cidade, das entidades, das instituições para ajudarem a formar o que é o projeto de cidade para Mogi quando fizer 500 anos, essas pessoas são responsáveis em dar continuidade, independentemente do ciclo político.

https://www.youtube.com/watch?v=4cLF5Ovi4Ok

CMN: Outro projeto é o Mogi Cidade da Criança, que está vindo aí com várias ações.
Priscila: É, porque é justamente você trabalhar para esse futuro, é a gente investir em todo o segmento, mas em especial na criança, porque a gente vai colher esse fruto muito em breve. Pensando nesse projeto da criança, a gente tem alguns avanços e algumas entregas já acontecendo. Hoje a gente é uma cidade Urban95, que é uma entidade internacional que olha para a cidade a partir da perspectiva de uma criança de 95 centímetros. Então ela é toda pensada, já foi planejada e vai ser reorganizada em termos de planejamento urbano para essa criança, tudo tem essa perspectiva. Então você tem no ponto de ônibus uma atividade lúdica, tem uma brincadeira, uma leitura, enfim, e parques naturalizados. Toda a cidade respira esse ar para lembrar que todo mundo tem responsabilidade com a educação, não só o professor ou o diretor da escola, todo mundo educa.

CMN: A educação não é feita só na sala de aula?
Priscila: Exatamente, a gente fala do desemparedamento da escola. Então tudo educa. E a gente teve um destaque, são 12 cidades que são Urban95 nesse projeto, e recebemos apoio de expertise, como captar financiamento para fazer isso acontecer e várias outras ajudas que essa proposta traz, como ter um planejamento urbanístico para isso, e um planejamento pedagógico específico que prega muito a questão da autonomia do aluno, a questão de você aprender onde estiver. Então se você fizer um café da manhã nesta mesa, e trouxer as crianças, a gente começa a educar aqui, de uma forma multidisciplinar.

É você despertar uma curiosidade no aluno, separar as crianças por grupos de interesse, e a partir desse contexto, você trabalha os conteúdo que estão presentes em todas as normas de conteúdo colocadas tanto pelo Ministério da Educação, como pela Secretaria da Educação, mas dentro de um contexto que para ela desperte curiosidade. E a gente já fazia isso na faculdade meio sem saber, trabalhando com projetos. A teoria vira consequência do interesse do aluno, porque ele quer se aprofundar.

É um projeto inovador, apesar de a gente já praticar, mas é inovador principalmente quando a gente fala de alfabetização. Um dos mentores é o professor José Pacheco da Escola da Ponte, que tem vindo para Mogi e Mogi está inspirando outras cidades. A gente vai disseminando o bichinho da educação para o país inteiro.

O que a gente tem de bacana, temos os espaços de brincar. Hoje no Jardim Aeroporto, a gente já tem uma rua lá toda adaptada, e foi muito bacana de ver pelas câmeras da cidade, às 22h30 os pais brincando no balanço, no escorregador, em um bairro mais afastado, teoricamente mais vulnerável. A gente já começa a ver os resultados. Nos parques naturalizados a gente faz a poda das árvores na cidade, ou tem materiais reciclados e fazemos os parques. No projeto de Jundiapeba, as crianças fizeram com uns acetatos, o parque que elas queriam, e baseado no que elas queriam, estamos criando o parque. Então hoje nós temos os Detetives da Cidade, que são crianças olhando o que precisa melhorar.

CMN: Eles (os Detetives da Cidade) são como um Conselho?
Priscila: Isso, um Conselho infantil, o que é bem bacana. E o Vagalume agora, que é um novo conceito de saúde infantil, e também traz outra concepção de saúde, muito mais focada até na prevenção e no cuidado. É uma entrega muito bonita para a saúde das nossas crianças. A gente sabe que investir na criança é a gente vai ter um futuro diferenciado, para nós isso faz muito sentido.

CMN: E uma cidade que é boa para a criança vai ser boa para todos?
Priscila: Com certeza, até para despertar nossa criança que a gente adormece. Eu acho que isso também traz uma nova consciência para o cidadão mogiano.

CMN: O que você vê como avanços e desafios na Educação?
Priscila: A nossa Secretaria de Educação tem 3,5 mil servidores públicos. Eu volto no fato de que a gente precisa cuidar desse servidor, inspirar, os professores, os gestores da educação, os departamentos pedagógicos, transporte escolar, é uma imensidão. A gente não tem ideia do tamanho da nossa educação municipal, são 50 mil crianças praticamente, e a gente tem as parceiras das creches, que a gente fala de subvencionadas, mas que a gente quer transformar. Não importa se você está em uma creche subvencionada ou em uma creche própria, elas têm que ter o mesmo aspecto, a mesma formação dos profissionais e dos professores.

O professor tem que estar pleno para ele atuar, se valorizar e a gente valorizar esse profissional. O professor é a chave da educação, é através dele que a gente muda a criança, muda o jovem, muda o adulto. Hoje o professor está com a autoestima muito baixa, então trazer também essa importância para ele, para ele se olhar mais, ele se cuidar. Inclusive, a gente faz até trabalhos de meditação, de autocuidado, para ressignificar esse profissional que, ao meu ver, é a chave de toda a transformação.

A gente tem também que investir em kit escolar, e temos recebido os feedbacks. É o segundo ano que a gente entrega um kit escolar altamente diferenciado. São kits escolares completos, e você precisa ter o recurso para fazer uma boa educação. O uniforme veio completo, é o desejo da gestão um uniforme bacana, com uma nova cara, de uma qualidade boa. A gente teve a questão da pandemia, muito problema de fornecimento, mas foi no país inteiro, e agora os nossos uniformes estão sendo entregues.

Nós teremos também a parte de tecnologia. São 214 escolas espalhadas nas áreas rurais, de difícil acesso, mas a gente precisa trazer a conectividade. O projeto de 100% Conexão está a todo o vapor. A gente está dando spoiler aqui, mas vem novidade boa também. E tudo isso vai ser materializado no complexo educacional que é o Viva Jundiapeba, com todo esse conceito do Urban95, uma nova pedagogia para espalhar para a cidade inteira.

CMN: Vai ser um polo multiplicador?
Priscila: É uma escola que vai ser uma residência para formação de professores e do bairro. Uma escola que vai funcionar no final de semana, com piscina, quadra, espaços diferenciados, salas multifuncionais, espaço de brincar, tudo isso é um conceito para olhar essa educação de uma forma integral, não só um tempo integral, mas para formar um ser humano integral. Então tudo isso é muito disruptivo, muito inovador. Muitas pessoas às vezes não entendem, mas aí a gente está sempre aqui para explicar.

CMN: Outro lado importante do seu trabalho é o empreendedorismo, como é esse trabalho?
Priscila: Eu acho que você foi na raiz da questão, de trazer o comportamento empreendedor, trazer essa filosofia de vida. A pessoa que olha para o problema e vê possibilidade de renda, de ver oportunidade, de ver um novo mercado. Trazer o mindset diferenciado para o servidor. Eles até exoneram para empreender na própria vida e está tudo bem, ele vai ser mais feliz. Eu tenho vários cases aí de sucesso, que exoneraram do serviço público para empreender, e que até prestam serviço para a própria prefeitura, porque conhecem os trâmites, entendem como é vender para o serviço público. Então, na verdade, se todos nós, e se tivermos educação empreendedora, é que uma das questões que a gente está colocando na primeira infância, a gente vai ter um novo país. Vamos ter pessoas que ao invés de se vitimizar, se lamentar, claro que guardando todas as questões das dificuldades que as pessoas têm, de oportunidade, da falta de acesso, do absurdo de viver com tão pouco. A gente sabe que 25% da nossa cidade vive abaixo do nível da pobreza.

Com o apoio da Prefeitura, das entidades, do Sebrae, associações comerciais, da indústria, com essa rede de apoio fazer com que essas pessoas também possam sair dessas condições. A gente olha para tudo e vê oportunidades de criar, inovar, e a inovação ela não está necessariamente ligada à tecnologia, às vezes é você fazer um pão de queijo com uma marquinha diferente, um recheio diferente. Eu trago muito isso também, que a gente pode fazer as mesmas coisas, mas com uma velocidade diferente, com uma forma diferente, com uma parceria diferente, e isso é inovar. E isso está o tempo inteiro na gente, na busca para trazer a criatividade para o setor público. Acho que isso é muito importante, pensar fora da caixa, e aí a gente atua nisso o tempo inteiro.

Quando a gente fala de entregas relacionadas ao empreendedorismo, desde de quando a gente entrou e a pandemia nos deu um solavanco, gente teveí o auxílio emergencial para empreendedores; um plano de cooperação para os mogianos para qualificação e capacitação; a gente atualizou a Lei Mogi Mais Viva, que restringia demais a venda e a gente sabe que merchandising no ponto de venda é uma ferramenta importante.

Estamos fazendo um trabalho incrível com os empreendedores de rua, inclusive eu fui pessoalmente com eles, fizemos uma capacitação trazendo desde a questão da atenção plena, de novas ferramentas, do marketing digital. Estamos muito focados no profissionalizante, em formar as pessoas com esse foco no empreendedorismo, para pensar em venda com o que você tem hoje, com o seu recurso. As capacitações que a gente faz com o Sebrae, Associação dos Contadores, enfim a desburocratização para o empreendedor, para conseguir acessar a formalização e conseguir melhores tributos com o Promae, que é um programa de melhoria de tributos para esses empreendedores. O Banco do Povo, que tem os empréstimos que financiam pequenos empreendedores e a gente também alcançou índices muito bacana na geração de emprego.

A gente tem o Mogi Conecta Emprego, que melhorou muito a plataforma, e tem atraído muito mais vagas. Tem o Mogi Tech Academy, que foi um projeto muito legal que aconteceu no Polo Digital, com muitos cursos para capacitar as pessoas no empreendedorismo, em programação, são mais de 100 opções de cursos online e já conecta com o empregador para aquela mão de obra que se forma. A gente teve um recorde em dois dias de matrículas. Estávamos em 900 e fomos acho que para 3 mil. Então são várias frentes. O que a gente precisa é contar para as pessoas, para elas saberem e também buscarem se profissionalizar. Então tem bastante coisa boa acontecendo.

CMN: Quais são seus planos para o futuro? Vai seguir na vida política?
Priscila: O professor é um ser político por natureza. A gente estimulava muito, representantes de turma, os grêmios, então a gente já fazia esse movimento político forte e eu gosto dessa boa política, da política da essência, ideária. Claro que a política partidária tem que estar, para viabilizar as condições. Muitas vezes você transita sim, pela direita, pela esquerda, mas eu vejo que essas questões, até de rótulos, elas não servem mais para os tempos que a gente vive hoje. Você precisa transitar pelos dois, mas sem conflito e sem radicalismo, sem fanatismo. É sempre no diálogo, sempre trazendo as opiniões de quem vive a cidade, de quem sofre as dores.

As pessoas perguntam se eu vou continuar, e eu estou a serviço. Se for para a gente fazer um bom trabalho, principalmente trazer esperança para as pessoas de que a política pode ser bacana, pode ter o objetivo real dela, eu acho que vale muito a pena fazer essa boa política. Eu faço um convite para que as mulheres se aproximem da política. Eu sou a primeira vice-prefeita da cidade em 462 anos, e não quero ser a última, quero que mais mulheres venham, sejam líderes onde quer que elas estejam, seja no bairro, no seu trabalho, na sua família, líderes conciliadoras, que façam as coisas acontecerem da melhor forma, que é o que a gente precisa.

Eu sou muito grata pelos feedbacks que a gente recebe. “Priscila, mas você está tomando feedback negativo”, não tem problema, feedback é sempre um presente e a gente tem que encarar que a gente está em melhoria constante. Eu agradeço de coração, algumas coisas a gente explica, tem o tempo, tem a dificuldade, mas às vezes a pessoa tem até a solução, e nos ajuda a fazer uma política melhor, e é nessa política que eu acredito. Então se for para caminhar nesse sentido, eu super quero continuar e trazer mais e mais mulheres bacanas para a política.

(Colaborou Fabiana Oldra e Geraldo Campos)