Em continuidade ao Especial das Mulheres do Café com Mogi News, confira a segunda parte da entrevista com Marisa Shibata, diretora administrativa do Grupo Shibata. Ela destaca a responsabilidade com os quase seis mil colaboradores das 29 lojas da rede, como foi o período da pandemia de Covid-19 e seus planos para o futuro.
A trajetória de Marisa é inspirada pelos homens e mulheres de sua família, especialmente a avó Kimie Shibata, e os pais, João Shibata e Fumie Makita. Destaque também para pessoas que marcam sua história profissional como Ediel Braz Soares, responsável pela Legião Mirim, origem de muitos dos jovens colaboradores da rede, alguns que até se tornaram gerentes, como ela conta. A mãe de João Guilherme, Isabele e Luísa também fala de uma vida com propósito e mais equilíbrio. Leia mais na segunda parte desta entrevista especial.
CMN: Voltando um pouco para a rede, como é a participação das mulheres?
Marisa: Eu acho que em termos gerais, está bem dividido. Nós temos bons exemplos na rede de que a mulher pode ser uma gerente, nós temos várias líderes. Na gestão de pessoas, estamos buscando perfis, não tem como falar que a mulher não pode porque tem filho, se todo mundo tem, uma hora dá para conciliar e tem que conciliar. Então, eu acho que a mentalidade de que a mulher falta muito no trabalho porque está cuidando do filho ou algo do tipo, não tem mais espaço. Claro que a mulher tem sua responsabilidade como mãe, mas hoje, os pais também tem. A gente vê tarefas sendo dividas.
Eu percebo que todas as mulheres tem o mesmo potencial, mas as mulheres tem uma competência diferente, por cuidar da casa e dos filhos. Acho que culturalmente nós fomos ensinadas para conseguir fazer mais de uma tarefa, mas todo resto é treinamento, todo resto é desenvolvimento, tanto para o homem quanto para a mulher. Chega em um nível que a gente não fala mais “homem e mulher”, é o comportamento, como a pessoa lidera a equipe, isso que é legal. Quando a gente capacita, não falamos que é um treinamento para homens ou para mulheres, é aberto para todos.
Uma coisa é a mulher se aceitar, porque se ela acha que ela é inferior, ela sempre vai ser inferior. Agora se ela se aceita como ela é e como ser humano, com falhas e sensível, como qualquer um. Ela é a primeira que aparece, que se destaca. Uma dica para todas aqui, é trabalhar a autoestima, entender que nós somos capazes e sempre buscar um apoio e não fazer nada forçado, pois as coisas acontecem. Como eu falei na história da família, eu não tive que brigar, a gente conquista o espaço. Claro que com pessoas como a minha família, que tem muitos outros homens acolhedores, muitos outros homens são formadores, são pessoas que nos mostram que estamos no caminho certo. A empresa precisa de pessoas formadoras de pessoas, pessoas que possam liderar e fazer o ambiente de trabalho ser um ambiente saudável.
CMN: Como você avalia a importância da saúde mental?
Marisa: A gente fala hoje de saúde mental, e a vida de supermercado não é fácil. A gente passou por um processo difícil. Nós vimos que temos uma oportunidade de crescimento dentro do supermercado, em todas as áreas, então quem gosta do ramo, com certeza consegue crescer, mas vamos crescer de forma equilibrada, Nós temos que buscar o resultado sim, mas tem que ser de uma forma saudável, de forma que as pessoas se sintam bem trabalhando e elas vão trazer esse resultado.
Nós temos uma equipe muito boa. As pessoas dão feedback, como a Sonia (Massa de Moraes, vice-presidente do Grupo Mogi News) como cliente. Eu agradeço e a equipe aceita o feedback de forma positiva, pois se nós estamos falhando, é por talvez uma questão de reforço. Nós temos que entender o porquê que estamos fazendo, ninguém é robô aqui. Chegar nessa qualidade de treinamento e conscientização é uma missão, por isso que eu falo que a pessoa tem a educação da família, da escola e tem o trabalho que nós chamamos de casa, porque aqui a gente também ensina.
Nós vemos os meninos que são menores aprendiz, como aqui em Mogi com a Legião Mirim, do Ediel (Braz Soares), que faz um trabalho muito bacana. Ele trabalha com a essência. Eu admiro muito o trabalho deles, pois os meninos vão crescer com uma base. Nós temos gerentes que foram da Legião Mirim.
CMN: Quais são seus planos pessoais e profissionais para o futuro?
Marisa: É claro que é expandir. Esse ano a gente inaugura um outro hipermercado em Suzano, e é mais trabalho, mais uma loja para oferecer o melhor que a gente tem, o melhor atendimento. Da parte pessoal, eu tenho uma equipe maravilhosa e buscamos sempre inovação. Sempre que tem uma ferramenta nova, alguma funcionalidade que vai melhorar em processos e a comunicação, que vai aperfeiçoar as pessoas, a gente busca essa ferramenta. A minha equipe está junto comigo. Nós conseguimos planejar, construir um futuro que a gente diga “será que eu cheguei lá?, mas não, ainda falta muito para melhorar".
No ano passado eu comecei a me cuidar mais. Uma dica para as mulheres, é se cuidem. A gente acha que não tem tempo, mas tem que ter tempo. Eu até acho que eu era mais nervosa antes, fazendo academia, eu fiquei mais calma. Às vezes você tem tanta energia, tanto pensamento e academia ajuda em toda questão hormonal, o sono, e a alimentação tem que ser boa. Uma dica importante é ter algum hábito saudável e colocar a gente como prioridade, por que se a gente não gosta da gente, como que vamos cuidar do outro? Então eu decidi, vou cuidar de mim e vou cuidar dos outros. A pandemia mostrou muito isso, ficamos cuidadosas com tudo, mas e a minha imunidade?
CMN: E vocês na pandemia não pararam.
Marisa: Não, a gente não parou. Meu pai, meus tios, todos os dias trabalhando. Claro, a gente não fazia visitas como antes, mas a gente trabalhou mais do que nunca. Nós aprendemos muito na pandemia, tanto em espiritualidade quanto físico também. Eu falo para as pessoas: “sejam mais leves, briguem menos. Não tenham inimigos. Quando tiver com um problema, resolva o problema”. A leveza que você tem que tirar de tudo isso é que você está aqui graças a Deus, é porque você tem algo a oferecer, então ofereça o seu melhor e ofereça da melhor forma. Você tem que ter um equilíbrio, você tem que ter uma qualidade.
As pessoas não querem ser maltratadas, não gostam de pressão sem saber o porquê. Você tem que ter um propósito, ter um objetivo. Você tem clientes, então você tem que atender bem. Mas não adianta você atender bem, se você não está cuidando do funcionário. Como você trata seu colaborador é a forma que ele vai tratar o seu cliente. Ninguém é perfeito, nós estamos em construção, somos humanos, erramos, mas acho que essa busca e essa consciência é necessária.
Quando você tem esse propósito, que é uma construção com seres humanos, a gente constrói lojas, mas nós estamos lidando com seres humanos, com sentimentos e expectativas. Produtos a gente encontra em qualquer lugar, mas como você oferece o seu produto com o atendimento que é só seu? Eu falo: "o cliente volta por conta dos nossos colaboradores". Eles que estão na linha de frente, olhando, sorrindo para o cliente, conversando, acolhendo. Essa é a forma que a gente conduz. Isso que eu admiro desde 1976 com a minha avó trabalhando na quitanda, e todo mundo lembrando dela e do seu atendimento dela; do meu avô, sempre andando pra lá e pra cá; do meu pai e dos meus tios sempre presentes, fazendo de tudo para atender os clientes e a gente faz isso até hoje. Essa essência que não pode morrer, essa é a essência Shibata.
(Colaborou Eduarda Martins)
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