No Café com Mogi News de hoje, Cláudio Neto, coordenador da Trupe do Riso, conta sobre a nova sede da ONG. A chave do espaço foi entregue no último dia 15 e o grupo comemora a recente conquista. De acordo com Neto o espaço passa por algumas reformas e em breve contará com diversas atividades e programações especiais.


“Agora vamos ter condições de montar duas salas de treinamento, teremos uma mini biblioteca, teremos nosso espaço do bazar, teremos um camarim. Além disso, temos um quintal, que precisa de obra, então talvez fique mais para frente isso, mas almejamos montar ali um espaço de apresentação. Queremos colocar um mini palco, encher o chão de EVA, talvez cobrir com uma tenda para dias chuvosos, mas nosso alvo é para que seja um espaço sócio cultural. Que consigamos colocar crianças sentadas ali, para contar uma história, fazer apresentações de palhaço, para ajudar no incentivo à leitura dessas crianças, que é um trabalho que já vem acontecendo dentro da Trupe”, contou Neto.


Na entrevista do novo episódio do Café, com apoio da Padaria Tita, Claudio Neto fala do trabalho realizado pelo grupo, as atividades realizadas no Dia das Crianças, sobre o retorno emocional das crianças e adultos que recebem a visita dos voluntários da ONG e sobre as atividades para este ano. Neto também trouxe várias brincadeiras e surpreendeu a equipe do Grupo Mogi News. 


Café com Mogi News: Cláudio, eu gostaria que você contasse um pouquinho para a gente qual é a missão de vocês da ONG e quais são as experiências que você tem tido ao longo desses anos fazendo esse trabalho tão bonito e emocionante, que é a da Trupe do riso.

Cláudio Neto: A gente começou como uma instituição em 2018. O trabalho foi criado com a missão de transformar realmente a vida de alguém nem que fosse por breves cinco minutos, tentando tirá-la daquela realidade muitas vezes angustiante, ou ruim que ela vive, para um momento de sorriso, um momento de alegria. Ou mesmo que não haja um sorriso, um momento em que essa pessoa se sinta ouvida, se sinta importante. Então através da arte, muito especificamente da arte do palhaço, que acaba sendo nosso carro chefe, é a gente tentar aliviar a dor de alguém por um breve momento ou em alguns casos, quem sabe também, para sempre. Com o passar dos anos, por volta de 2015, 16 e 17, a gente começou a receber alguns convites para fazer alguns trabalhos tanto em hospitais, em ruas, em comunidades carentes, e uma pessoa começou a indicar para outra e percebemos que existe um mundo fora desse ambiente que a gente está acostumado a viver que eu preferiria que nem existisse. E o palhaço acaba tendo um impacto muito grande na vida dessas pessoas. A gente às vezes vai pensar na criança, né? O palhaço, aquela figura lúdica, colorido e divertido, e normalmente a gente vai associar ele a criança, mas a gente percebeu que o palhaço não está ali só para a criança, ele está ali para qualquer pessoa de qualquer idade. Então, essa vivência que nós passamos a ter, fez a gente investir nisso, estudar a respeito, aprender cada vez mais, se aprimorar e transformar isso de uma forma institucionalizada para impactar mais vidas e alcançar mais pessoas.


CMN: Imagino que nesse tanto de lugares que você já tenha visitado, tanto com crianças e adultos, como você falou e eu queria saber qual é o retorno que você tem recebido? Seja de um pai ou de uma mãe, seja ali, do próprio paciente, ou também de equipes médicas. Como eles se sentem ao receber essas visitas? Porque eu imagino que alegra o dia.
Claudio: Um dos pontos que acabou marcando muito nossa vida para a gente enxergar o impacto de um palhaço dentro do hospital. Em 2016 eu estava dentro do Hospital das Clínicas, no instituto psiquiátrico em São Paulo, e eu não me lembro se foi minha primeira ou segunda experiência naquele hospital, e eu estava ali com pessoas muito mais experientes, estava aprendendo e entendendo o que estava acontecendo, e a gente entrou na área infantil. Ficamos ali, havia um grupo, eu acho que de mais ou menos oito ou umas 10 pessoas naquela equipe, alguns como palhaços outros não, e haviam algumas crianças, a gente sentou, pintou, coloriu, alguns de nós estava com violão, ficamos conversando e interagindo por mais ou menos 20 minutos com as crianças. Quando nós saímos daquele lugar, nos deparamos com uma mãe que veio até nós chorando, abraçou todo mundo, catou a equipe e com os braços enormes dela juntou todo mundo, meio senhora elástica assim e ela falou que a filha dela estava internada há uma semana, e aquela foi a primeira vez que a filha dela sorriu em todo esse período. E para ela estava sendo muito angustiante ver a filha dela naquela condição. E aquele foi um primeiro impacto que nós tivemos, e foi um retorno, que eu pelo menos consigo me lembrar, foi o primeiro retorno que veio além de palavras. Algo que nós enxergamos, sabe? Uma vida sendo transformada ali a partir do nosso trabalho. E a gente falou caramba que legal, vamos investir nisso porque é importante que o palhaço esteja aqui dentro. A partir dali nós chegamos a viver outras experiências, eu tive uma situação muito marcante também uma vez, em um hospital aqui em Mogi, onde estavam eu e a Geleia, e a gente estava na UTI, no Hospital Santana, e tinha uma paciente cega e fomos interagir com ela sem saber da falta de visão dela, e aí fui conversar e ela falou “ah, eu sou cega, não consigo enxergar vocês. Vocês são palhaços?”, e falos “somos”, e ela falou “que legal! Qual cor é o nariz de vocês, é vermelhinho?” e eu ainda perguntei “você sabe o que é vermelho?”, ela falou “sim, eu enxergava antes, acabei perdendo a visão depois, mas conheço”. E a gente começou a descrever como nós estávamos para ela, e ela começou a se emocionar para caramba com aquele momento. Foi bem tocante. Da equipe técnica a gente sempre ouve, principalmente nesse período pós pandemia de conversa com algumas pessoas, as pessoas falam “nossa vocês fizeram muita falta aqui dentro, vocês alegram o ambiente.”. Então sempre existe um retorno muito positivo, da equipe técnica, dos pacientes, dos acompanhantes. Já ouvi relatos dos pacientes virem até nossas redes sociais agradecer. Tivemos um caso, em que entramos em um quarto e ele estava desanimadão, sabe? Desacreditado, e ele… estava esperando, esperando o momento em que iria chegar. A gente entrou, interagiu e conversou, brincou, ele sorriu, e uma coisa que a gente sempre deixa claro para os nossos voluntários, para a gente não importa o estado clínico dos nossos pacientes, é o nosso público. Se o nosso paciente não ouve, não fala, não vê, não reage, a gente vai interagir com ele como se fosse a pessoa mais animada e estivesse aplaudindo tudo o que a gente fizesse, e a gente vai interagir. E eu acho que isso acaba dando um diferencial para os acompanhantes.

CMN: E para vocês estarem naquele momento, o que passa para vocês dessa experiência?
Claudio: Tudo é uma construção. Eu não vou dizer que a gente se torna frio, que a gente se torna insensível ao que acontece, mas vamos aprendendo a nos defender disso para que isso não estrague o trabalho que estamos fazendo. A gente vai trabalhando tudo isso. Temos ainda ressentimentos, temos emoção, ainda temos vontade de chorar em muitos momentos, tanto que o trabalho sempre vai acontecer no mínimo em dupla, normalmente em dupla, poucos são os casos que a gente faz em trio, e quase nunca mais do que isso. Só em ocasiões muito especiais, no Natal, por exemplo, a gente está preparando um coralzinho, então é algo diferente, mas normalmente é em dupla, e a gente sempre fala, bateu a emoção, você fala para a sua dupla “vou ali fora soltar um pum”, você vai, tenha o seu momento, saia, deixa sua dupla, sua dupla vai tocar, a hora que estiver bem você volta. Mas não podemos, por mais emocionante que seja, não dá para a gente estar em um quarto de hospital, ouvir uma senhora falando que foi abandonada pelos filhos, que ninguém cuida dela, que ninguém liga, a gente tá ali para chorar com ela. A gente pode ouví-la, a gente pode se emocionar, a gente pode curtir esse momento e permitir que ele desabafe, mas não dá para permitir que os sentimentos dela controlem a situação. São ferramentas que a gente vai desenvolvendo para que o trabalho continue acontecendo independente do que a gente está ouvindo ali no quarto.

CMN: Vamos falar um pouquinho dos projetos. Recentemente teve a hamburgada, e também o Dia das Crianças. Conta para a gente um pouquinho como é que foi.
Claudio: Legal! A hamburgada foi a segunda edição que nós fizemos. Fizemos ano passado em meio a pandemia, não poderíamos fazer os bazares, que sempre foi uma fonte de renda muito bacana para a gente e não tinha como fazer, não poderia aglomerar pessoas e precisava de uma forma diferente para levantar fundos, porque temos conta a pagar, então resolvemos fazer a hamburgada, fizemos em maio do ano passado, na época a gente conseguiu vender uns 80 lanches, e fizemos uma parceria com a Instituição Emanuel, que uma casa de passagem de moradores de rua, eles vêm e passam a noite, tipo um albergue, então de todos os lanches que nós fizemos, na casa acho que tinha cerca de 20 pessoas no dia, então produzimos 20 lanches e doamos. Então esse ano nós repetimos, o resultado foi bacana ano passado, então pensamos em fazer de novo, fizemos um estudo com o pessoal de marketing que tem um programa voltado para ajudar associações sem fins lucrativos, e eles mesmos disseram para a gente com o todo o estudo “olha, vocês tem que fazer mais hamburgada, talvez se conseguir fazer duas vezes por ano será bem legal”, assim fomos atrás e fizemos. Esse ano fizemos uma parceria com a Instituição Afro da Casa Palmares, fica bem no centro do lado da Casa da Bandeira, eles também trabalham com moradores de rua, mas não são uma casa de passagem, eles são uma casa abrigo, então eles moram lá mesmo. São cerca de 40 vagas que eles têm, então eram pessoas que se encontravam em situação de rua, e hoje moram na casa. Divulgamos a venda, usamos a dependência deles para a produção dos lanches e o resultado foi incrível. Para a casa foram doados 44 lanches e vendemos 115 lanches. Foi um resultado bem bacana, tivemos algumas pessoas que eram de longe, então que não compraram o lanche para comer, mas que compraram e doaram, e financeiramente falando foi uma arrecadação bem bacana que ajudou bastante nosso projeto. Enquanto isso estava acontecendo, com a hamburgada sendo divulgada, recebemos a notícia de que iríamos conseguir o nosso espaço, a nossa sede também. Então, como já veio isso da sede no período que estava casando a hamburgada, eu falei “caramba, agora a gente precisa muito arrecadar, porque vamos ter um aluguel para pagar”, e com isso tem toda uma estrutura para montar, a gente realmente precisa de verba e não tem o que mentir a gente precisa, eu tenho uma maleta aqui comigo com acessórios que foram comprados. São acessórios que eu uso no meu dia a dia e que precisam ser comprados, a gente precisa de espaço, precisa pagar imposto, por isso precisa de dinheiro. Então a hamburgada foi bem legal tanto para o lado social com a doação de lanches, com o engajamento de cada lanche, a gente mandou um nariz de palhaço com cada lanche para o pessoal tirar uma foto e postar, o pessoal tirou, marcou a Trupe do Riso, foi bem legal, e o lanches estava delicioso. Quem fez foi uma tia minha, que ela é chefe de cozinha, ela já havia ajudado no ano passado, ela veio esse ano, esse ano ela está morando em Guarulhos, trabalhando em um hospital, ela é chefe de cozinha no hospital, então ela pegou o dia de folga, veio para Mogi, produziu, cerca de 180 lanches, conduzindo uma equipe de voluntários, não é gente com experiência em cozinha e tudo o mais, e ela conduziu tudo isso, produziu, saíram daqui quase 20 horas, pegou o trem para voltar à Guarulhos, foi bem legal e o lanche ficou muito gostoso. E veio o Dia das Crianças também, foi tudo muito perto, eu particularmente, na véspera do Dia das Crianças, no dia 11, eu me apresentei na Escola Municipal Cláudia Abraão, fica ali no Jardim Aeroporto 3, foram quatro apresentações, é uma escola grande, acho que com cerca de 800 alunos, e eles dividiram em quatro turmas, então foram duas apresentações de manhã e duas à tarde. No dia 12 tivemos algumas ações acontecendo, pela manhã fizemos visita no Pró Criança, estava eu junto com o Chico Tito, lá é um lugar que já fazemos visitas regularmente. Na parte de contadoras de histórias elas também estavam em Braz Cubas, contando histórias para crianças de uma igreja, no período da tarde também tivemos outros três palhaços, a Geléia, o Manteiga e o Marmita, que também se apresentaram em outras duas igrejas.


CMN: E agora a nova sede de vocês? Como está o planejamento e quais as programações para o final do ano?
Claudio: A sede, a gente pegou a chave no dia 15 de outubro, conseguimos o espaço, foi bem legal, foi através de uma conhecida nossa, de uma amiga nossa, uma casa que acabou ficando vaga por motivos particulares, e ela fez um aluguel pela metade do valor de mercado, para nós estarmos na casa. É uma casa grande, até então a gente estava procurando um galpãozinho, um lugar pequeno, que nós pudéssemos juntar para o pessoal ensaiar. Agora vamos ter condições de montar duas salas de treinamento, teremos uma mini biblioteca, teremos nosso espaço do bazar, teremos um camarim, a gente está louco para que o fundo do quintal, precisa de obra, né? Então talvez fique mais para frente isso, vamos ter que ir atrás de verba para tudo isso, precisa de obra. Almejamos montar ali um espaço de apresentação. É um quintal que queremos colocar um mini palco, encher o chão de EVA e colocar a criançada sentada para ouvir mesmo. Talvez cobrir com uma tenda para dias chuvosos, mas nosso alvo é para que seja um espaço sócio cultural. Que consigamos colocar crianças sentadas ali, para contar uma história, fazer apresentações de palhaço, para ajudar no incentivo à leitura dessas crianças, que é um trabalho que já vem acontecendo dentro da Trupe, então queremos que aconteça tudo isso. Hoje nosso foco maior, a primeira coisa que preciso que saia, é o nosso bazar. O bazar vai nos permitir pagar o aluguel, permitir investir na casa, fazer as melhorias que precisamos, comprar equipamentos que nós precisamos. O bazar queremos que até a primeira quinzena de novembro esteja funcionando, assim que estiver funcionando, queremos uma das duas salas de treinamento já em funcionamento, porque eu já tenho cerca de 10 pessoas aguardando para o momento que a gente disser que vamos abrir a turma de treinamento para novos voluntários e esse pessoal já estará lá. Inclusive, quem ainda tiver interesse em fazer parte deve iniciar no começo de dezembro o treinamento, serão quatro meses de capacitação, essa capacitação tem muito teatro físico e muito conhecimento do corpo, conhecimento interno de si próprio, com o palhaço nós sempre vamos fazer um trabalho de tirar de dentro para fora, para descobrir o que você tem aí dentro para se conectar com o mundo.


CMN: E essas pessoas que estiverem interessadas já tem um telefone que você possa disponibilizar ou um endereço?
Claudio: Tem um ponto de referência maravilhoso, que fica em Braz Cubas de frente para a Caixa Econômica Federal, a rua é R. Isidoro Boucalt, número 99, O espaço está ali, quem quiser fazer parte pode entrar em contato pelo nosso Instagram mesmo, é @trupedorisobr.