A influenciadora digital, modelo fotográfica e assistente social, Letícia Prado, propõe instigar um debate nas redes sociais sobre a representatividade de mulheres “fora do padrão”, empoderamento e aceitação do próprio corpo. Letícia tem 29 anos, é de Mogi das Cruzes, já participou de concurso plus size e é uma das 18 embaixadoras da marca de roupas catarinense Elegance All Curves. Nas redes sociais, é possível achar a influencer no @estiloleprado. Nesta entrevista do Café com Mogi News, em parceria com a Padaria Tita, ela falou sobre a sua carreira e a importância de um corpo tamanho 50 se mostrar nas redes sociais e ir contra a maré dos estereótipos.
Café com Mogi News: Como é o seu trabalho hoje?
Letícia Prado: Sou digital influencer há dois anos e assistente social há três. Quando eu penso na minha trajetória, desde pequena, percebo que já almejava isso, queria me vestir bem. E sempre fui gordinha, mas cresci lidando com marcas grandes determinando uma numeração, então já queria sair fora dos padrões. É preciso agregar isso dentro de casa e não limitar o outro, e a assistência social é minha paixão, as duas agregam muito, porque uma fala da garantia de direito e o poder também de influenciar. Principalmente, quando a gente fala sobre romper os estigmas. Sempre amei foto e câmera. Na escola eu dançava e me apresentava e as minhas raízes - a minha mãe e minha vó - sempre me falaram desde pequena, o quanto eu era linda, então eu cresci em uma vivência gostosa e leve. Mas quando era pequena, talvez as meninas daquela época, pensassem: “Nossa, aquela roupa não vai caber em você”, e se fosse alguma apresentação, as meninas perguntavam como eu ia fazer, e sempre falava que ia dar um jeito.
CMN: Antes não encontrávamos marcas que buscavam a representatividade de corpos com outros padrões, era limitado. A visão das empresas está mudando?
Leticia: Agora nós estamos começando a mudar essa concepção. Na verdade, a gente entendeu que a mulher pode ocupar o espaço que ela quer, e que tem essa desconstrução, por exemplo, quando ocupamos um cargo superior. Quando eu fotografava e as mídias sociais chegavam, eu sempre me expunha. Então as marcas começaram a chegar até mim, mas só ficou nítida essa relação quando eu conheci a La Chic Boutique - loja que tenho uma parceria - e dei início a essa descoberta. Infelizmente a gente lida com uma realidade que hoje vamos em uma loja e pergunto: 'uma calça jeans x vai vestir bem no meu corpo? ela vai ceder?'. Daqui um tempo ela vai ceder, porque eu tenho uma coxa grossa. A gente precisa tornar isso comum, porque eu tenho o braço gordo, a coxa grossa, é preciso naturalizar e escolher uma peça que vai abraçar a gente e que vamos nos sentir confortável. A maneira como vamos nos apresentar é incrível, a gente se sente empoderada, e assim, ocupamos um espaço com mais firmeza.
CMN: Normalmente, as pessoas olham para uma peça como se fosse só consumo, mas é mais do que isso, como é para você?
Leticia: Sim, a gente acaba se sentindo empoderada, fica mais à vontade para ocupar esses espaços, um lugar de fala, então é importante. Hoje a gente precisa disso. Na verdade, se vestir é político, é como a gente se comunica para o mundo, é o que eu quero passar para o outro. Atualmente, se eu pensar na moda plus size, não quero me definir em um nicho que encontro em uma loja de fast fashion, isso não me define. Eu quero ter acesso igual, para todos e em todos os segmentos. Não quero ser só um segmento, eu preciso encontrar em qualquer lugar que eu for, e hoje essa é a nossa maior briga. Porque infelizmente é o padrão, é o tamanho que nos define. E não, isso não me caracteriza. Tenho uma profissão, eu gosto de lidar com as pessoas e a gente precisa ter essa consciência.
CMN: Como modelo plus size, você já participou de concursos?
Leticia: É bem recente, participei de um concurso da Eico Cosméticos, que é uma marca de produtos de cabelo e eu fui chamada entre milhares, ficando entre seis selecionadas. Depois fui para o Rio de Janeiro conhecer a marca de perto, a parte da propaganda e publicidade também. Quando a gente pensa em influencer, a gente pensa nisso, em algo grande, de 10 milhões de seguidores, mas a gente acaba influenciando o outro no dia a dia. Eu falo para minha mãe, para minha vó e para minha amiga de trabalho. A gente conhece o outro no dia a dia, então isso é muito forte e eu participei do concurso fui selecionada. A Elegance, conheci quando comecei a fotografar para La Chic, não tem uma roupa que coloco e fale não quero essa roupa para mim. Ela é perfeita, me identifico. A modelagem e o caimento, eu sempre gosto e daí quando saiu: 'Elegance procura embaixadora para poder levar essas experiências para receber as coleções'. Fiz a gravação, mandei para a marca, foram 500 e poucas inscritas, e você acaba ficando tensa e se questiona. O momento em que a Elegance mostrou que a minha foto estava ali, falei agora é concreto.
CMN: É tudo uma questão de representatividade?
Leticia: A influência é um trabalho de formiguinha no nosso dia a dia e na maneira como a gente se apresenta. Eu chego no trabalho de uma maneira, então de manhã é a digital influencer que está gravando, tirando foto, aí eu tiro o sapato, coloco um tênis, tiro a maquiagem, prendo o cabelo, máscara N95 e vou para a segunda parte do trabalho. Sempre escutei muito e de pessoas próximas: 'Letícia é para você, continua!'. E é grande e poderoso saber que pessoas de fora e que não te conhecem, te mandam mensagem: 'Letícia, com qual roupa eu vou? Tipo, eu tenho um casamento pra ir, que roupa você acha? O que me indica?'. Só de você poder transformar o outro, levantar se olhar no espelho com mais amor e mais respeito, isso é muito gratificante.
CMN: O que a gente encontra nas suas redes?
Leticia: Estilo, provador, rotina de acordar e ter um momento de autorreflexão, da realidade também, de falar: 'Gente, hoje eu não acordei bem', sem maquiagem. Porque se não, a gente acaba se questionando: 'nossa, por que do outro é melhor?'. A verdade é que seria fácil se eu acordasse às 7 horas da manhã, fosse para a academia, saísse, tomasse um café, escovasse o cabelo. E tudo bem são vivências, cada um tem uma realidade, só não é a realidade de todo mundo.
CMN: Quais são os seus planos para o futuro?
Leticia: Fico pensando como vai ser a Letícia do futuro, de repente, eu precise tomar uma decisão se devo continuar sendo assistente social ou não. Ainda não me colocaram nessa posição, mas o meu pezinho está mais para trabalhar como digital influencer, com a moda e empoderamento. É o que eu quero pra mim!