Os níveis de subnutrição infantil triplicaram na Faixa de Gaza desde que o último acordo de cessar-fogo foi quebrado em março, de acordo com a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), que teme o agravamento da situação. O representante da UNRWA, Philippe Lazzarini, descreveu como alarmantes os novos números, resultado do exame de quase 100 mil crianças nas clínicas da agência nos últimos seis meses, durante os quais Israel retomou e intensificou a ofensiva militar. Na Cidade de Gaza, atual alvo da ofensiva, "quase uma em cada três crianças está subnutrida, seis vezes mais do que antes do cessar-fogo", alertou Lazzarini nas redes sociais. O líder da UNRWA defendeu que esta é uma situação evitável, provocada pela fome, e "não um desastre natural". Ele apelou às autoridades políticas para que revertam medidas como a que praticamente bloqueia a entrada de ajuda humanitária no enclave. Sem "vontade política" para reverter esta situação, mais crianças morrerão", afirmou. A guerra entre Israel e o Hamas, desencadeada pelo ataque de proporções sem precedentes realizado pelo movimento islâmico palestino em 7 de outubro de 2023 em território israelense, já fez cerca de 1.200 mortos, a maioria civis, e 251 reféns. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, determinou hoje a mobilização de 60 mil reservistas, depois de ter dado ‘luz verde’ à tomada da cidade de Gaza, enquanto decorre o processo de mediação com vista a um cessar-fogo no território palestino e à libertação de reféns israelenses. A guerra no enclave palestino deixou, até agora, 62.122 mortos, a maioria civis, e 156.758 feridos, além de milhares de desaparecidos, supostamente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos. Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas pelo bloqueio de ajuda humanitária durante mais de dois meses, seguido da proibição israelense de entrada no território de agências humanitárias da ONU e organizações não governamentais (ONGs). O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, comandado pelo Hamas, estima que pelo menos 269 pessoas tenham morrido de fome desde o início da ofensiva, 112 menores de idade. Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas em “situação de fome catastrófica” e “o mais elevado número de vítimas já registrado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo. No final de 2024, uma comissão especial da ONU tinha acusado Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto ao Tribunal Internacional de Justiça, uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais e israelenses de defesa dos direitos humanos. *É proibida a reprodução deste conteúdo. Relacionadas Mesmo autorizado, material para abrigo não entra em Gaza, dizem ONGs Egito adverte Israel: deslocamento em massa de Gaza é "linha vermelha" Israel aprova polêmico plano de expansão na Cisjordânia ocupada