Um ataque israelense perto de um ponto de distribuição de ajuda em Gaza matou 31 palestinos neste domingo (1), segundo as autoridades de saúde locais, enquanto o Hamas e Israel trocavam acusações sobre um esforço vacilante para garantir um cessar-fogo. O incidente em Rafah, no sul do enclave, foi o mais recente de uma série que ressaltou a insegurança em torno da entrega de ajuda a Gaza, após a flexibilização de um bloqueio israelense de quase três meses no mês passado. "Há mártires e feridos. Muitos feridos. É uma situação trágica neste lugar. Eu os aconselho a não irem aos pontos de entrega de ajuda. Chega", disse o paramédico Abu Tareq no Hospital Nasser, na cidade vizinha de Khan Younis. O Crescente Vermelho Palestino, afiliado à Cruz Vermelha Internacional, disse que suas equipes médicas recuperaram os corpos de 23 palestinos e trataram outras 23 pessoas feridas perto do local de coleta de ajuda em Rafah. As autoridades de saúde locais disseram que pelo menos 31 corpos haviam chegado até agora ao Hospital Nasser. Os militares de Israel disseram em um comunicado que estavam investigando relatos de que palestinos haviam sido baleados em um local de distribuição de ajuda, mas que não tinham conhecimento de ferimentos causados por fogo militar. A Gaza Humanitarian Foundation (GHF) negou que alguém tenha sido morto ou ferido perto de seu local em Rafah e disse que toda a sua distribuição ocorreu sem incidentes. Ela acusou o grupo militante palestino Hamas de fabricar "relatórios falsos". A GHF é uma entidade com sede nos EUA, apoiada pelos governos dos EUA e de Israel, que começou a fornecer ajuda humanitária em Gaza no mês passado, ignorando os grupos de ajuda tradicionais. O grupo foi amplamente criticado pela comunidade internacional, com autoridades da ONU dizendo que seus planos de ajuda apenas fomentariam a realocação forçada de palestinos em Gaza e mais violência. Moradores e médicos disseram que os soldados israelenses dispararam do chão contra um guindaste próximo que tem vista para a área, e um tanque abriu fogo contra milhares de pessoas que estavam a caminho para obter ajuda do local em Rafah. Imagens da Reuters mostraram veículos de ambulância transportando feridos para o Hospital Nasser. O escritório de mídia do governo de Gaza, dirigido pelo Hamas, acusou Israel de usar a ajuda como uma arma, "empregada para explorar civis famintos e reuni-los à força em zonas de matança expostas, que são gerenciadas e monitoradas pelos militares israelenses". Israel nega que as pessoas em Gaza estejam passando fome por causa de suas ações, dizendo que está facilitando as entregas de ajuda e apontando seu apoio aos novos centros de distribuição da GHF e seu consentimento para que outros caminhões de ajuda entrem em Gaza. A organização acusa o Hamas de roubar suprimentos destinados a civis e usá-los para consolidar seu domínio sobre Gaza. O Hamas nega o saque de suprimentos e executou vários suspeitos de saque. Reda Abu Jazar disse que seu irmão foi morto enquanto esperava para pegar alimentos no centro de distribuição de ajuda de Rafah. "Que eles parem com esses massacres, parem com esse genocídio. Eles estão nos matando", disse ela, enquanto homens palestinos se reuniam para as orações fúnebres. O chefe da agência de refugiados palestinos da ONU (UNRWA), Philippe Lazzarini, condenou as mortes no domingo, dizendo em uma declaração no X que "a distribuição de ajuda se tornou uma armadilha mortal". Ele disse que a distribuição de ajuda deveria ser feita "somente através das Nações Unidas, incluindo a UNRWA". O Crescente Vermelho também informou que 14 palestinos foram feridos no domingo por fogo israelense perto de um local separado no centro de Gaza. A GHF também opera o local de distribuição de ajuda no centro de Gaza. Negociações fracassam Enquanto isso, Israel e o Hamas trocaram acusações pelo fracasso de uma nova tentativa de mediação árabe e americana para garantir um cessar-fogo temporário e a libertação de reféns israelenses mantidos em Gaza pelo Hamas, em troca de palestinos nas prisões israelenses. O Hamas disse no sábado que estava buscando alterações em uma proposta de cessar-fogo apoiada pelos EUA, mas o enviado do presidente Donald Trump, Steve Witkoff, rejeitou a resposta do grupo como "totalmente inaceitável" Dezenas de palestinos marcharam no domingo no funeral de um médico de Gaza, Hamdi Al-Najjar, que ficou gravemente ferido no final de maio em um ataque aéreo que matou todos os seus 10 filhos, exceto um. Najjar morreu no final do sábado. Os militares israelenses confirmaram que realizaram um ataque aéreo em Khan Younis naquele dia, mas disseram que o alvo eram suspeitos em uma estrutura próxima a soldados israelenses. O exército está investigando as alegações de que "civis não envolvidos" foram mortos, disse, acrescentando que o exército havia evacuado civis da área antes do início da operação. Israel iniciou sua ofensiva em Gaza em resposta ao ataque liderado pelo Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 pessoas, a maioria civis, de acordo com os registros israelenses, e 251 foram levados como reféns para Gaza. A campanha de Israel devastou grande parte de Gaza, matando mais de 54 mil palestinos e destruindo a maioria dos edifícios. Grande parte da população agora vive em abrigos em campos improvisados. *É proibida a reprodução deste conteúdo Relacionadas Lula reafirma que guerra em Gaza é genocídio e que judeus são contra Governo brasileiro condena novos assentamentos de Israel na Palestina Israel aprova 22 novos assentamentos na Cisjordânia apesar de sanções