O partido do presidente venezuelano, Nicolas Maduro, obteve nesse domingo vitória esmagadora nas eleições legislativas e regionais, que ficaram marcadas pela detenção de 70 pessoas e pelo boicote da maioria da oposição. De acordo com os números oficiais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgados no final da tarde de ontem, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) ganhou 23 dos 24 cargos de governador, deixando apenas o estado de Cojedes, no centro-oeste, para a oposição. A coligação de Maduro obteve 82,68% dos votos nas listas nacionais para as eleições legislativas, enquanto é aguardada a contagem dos resultados para cada círculo eleitoral, informou o CNE. A afluência às urnas, segundo o CNE, foi de pouco mais de 42%, mas a oposição contesta essa participação. Entre as 70 pessoas detidas antes da votação , está Juan Pablo Guanipa, um dirigente da oposição próximo da líder Maria Corina Machado, detido na sexta-feira e acusado de pertencer a uma “rede terrorista” que procurava “sabotar” as eleições.  Mais de 400 mil integrantes das forças de segurança foram destacados para as várias sessões de votação.  Os distúrbios pós-eleitorais que se seguiram às eleições presidenciais de 28 de julho resultaram em 28 mortes e 2.400 detenções, das quais 1.900 pessoas foram libertadas até agora. "Esta vitória é a vitória da paz e da estabilidade para toda a Venezuela", exultou Maduro aos apoiadores. "Hoje, a Revolução Bolivariana mostrou que é mais relevante e mais forte do que nunca. Hoje, demonstrámos a força do chavismo", acrescentou Maduro, ao falar sobre o movimento fundado por Hugo Chavez, do qual é herdeiro. Trata-se de um "processo importante de participação cidadã", afirmou Samadi Romero, uma estudante universitária de 32 anos que votou em Nicolas Maduro Guerra, filho do presidente, que encabeçava a lista em Caracas. "Não vou votar porque votei em 28 de julho e eles roubaram as eleições. É realmente uma farsa", disse Candelaria Rojas Sierra, 78 anos, funcionária pública reformada em San Cristobal, em declarações à agência France-Presse (AFP) quando se dirigia para a missa a fim de "rezar pela Venezuela". "O que o mundo viu hoje foi uma declaração silenciosa, mas poderosa, de que o desejo de mudança, dignidade e futuro permanece intacto", escreveu nas redes sociais, a partir do exílio, Edmundo Gonzalez Urrutia, que reclama a vitória nas eleições presidenciais de julho. Também Maria Corina Machado disse, em vídeo divulgado nas redes sociais durante a noite, que a oposição tinha "desmascarado essa grande farsa" e, tal como no passado, deixou um apelo ao Exército, a pedra angular do poder de Maduro: "O país exige [aos militares] que cumpram o seu dever constitucional e sejam os garantidores da soberania popular, agora é o momento de agir". O candidato da oposição Henrique Capriles, que foi eleito na lista nacional, defendeu a sua participação no escrutínio: "O que é melhor? Ter uma voz e lutar na Assembleia Nacional ou, como já fizemos em outras ocasiões, retirarmo-nos do processo eleitoral e deixar a Assembleia inteiramente nas mãos do governo?", questionou. O governo venezuelano reviu as fronteiras eleitorais para eleger um governador e oito deputados para Essequibo, região rica em petróleo que Caracas disputa com a Guiana, numa questão que remonta à época colonial. O representante do governo, almirante Neil Villamizar, foi eleito governador, em votação que decorreu em área de 21 mil eleitores, na fronteira com a Guiana. Não existem sessões de votação no território de 160 mil quilômetros quadrados administrado por Georgetown. O presidente da Guiana, Irfaan Ali, disse à AFP na quarta-feira que a eleição de um governador venezuelano para Essequibo é “uma ameaça”. "Irfaan Ali, presidente da Guiana, mais cedo ou mais tarde, terá de se sentar comigo para discutir e aceitar a soberania venezuelana", afirmou Maduro no domingo, prometendo "recuperar" a região. *É proibida a reprodução deste conteúdo. Relacionadas Com oposição rachada, Venezuela realiza eleição legislativa e regional