O presidente do Quênia desistiu, nesta quarta-feira (26), de aumentar os impostos, cedendo à pressão dos manifestantes que invadiram o Parlamento, lançaram atos em todo o país e ameaçaram mais ações nesta semana.

William Ruto disse que não sancionará o projeto de lei que inclui os aumentos, um dia depois de violentos confrontos entre a polícia e os manifestantes na assembleia e em todo o país, que deixaram pelo menos 23 pessoas mortas e dezenas de feridos, segundo os médicos.

"Ouvindo atentamente o povo do Quênia, que disse em alto e bom som que não quer esse projeto de lei, eu cedo. E, portanto, não assinarei o projeto, que será posteriormente retirado", disse ele em discurso na televisão.

Ruto afirmou que agora iniciará um diálogo com a juventude queniana, sem entrar em detalhes, e trabalhará em medidas de austeridade - começando com cortes no orçamento da Presidência - para compensar a diferença nas finanças do país.

A decisão é vista como grande vitória para o movimento de protesto de uma semana, que se transformou de condenações online dos aumentos de impostos em manifestações de massa, exigindo uma reforma política, na mais grave crise no mandato de Ruto, que dura dois anos.

A decisão pode afastar a ameaça imediata de mais agitação, mas deixa Ruto preso entre as exigências concorrentes dos seus cidadãos pressionados e de credores como o Fundo Monetário Internacional - que pede ao governo para reduzir o déficit a fim de obter mais financiamento.

Nessa terça-feira, a polícia abriu fogo contra manifestantes que se aglomeravam em torno do Parlamento e, mais tarde, invadiram o complexo da assembleia, minutos depois de os parlamentares terem votado a favor das medidas fiscais e as terem enviado ao presidente.

O jornal Nation registrou protestos em pelo menos 35 dos 47 condados do Quênia, desde grandes cidades a zonas rurais - até mesmo na cidade natal de Ruto, Eldoret, no coração da sua etnia Kalenjin.

Pelo menos 23 pessoas foram mortas em todo o país da África Oriental e 30 estavam sendo tratadas devido a ferimentos de bala, informou a Associação Médica do Quênia. Autoridades médicas em Nairóbi disseram que muitos ficaram feridos.

(Reportagem adicional de George Obulutsa, Hereward Holland e Edwin Okoth)

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