No meio de toda complexidade da adolescência, os jovens passam a receber, cada vez mais, um turbilhão de estímulos provenientes das redes sociais, que integram grande parte de seus dias. As diferentes plataformas, se não utilizadas da maneira correta, podem ter impactos profundos na saúde mental desse grupo, tanto no presente quanto no futuro.
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"Durante a adolescência, há uma necessidade maior de interação social e de pertencimento a grupos. É um período em que os indivíduos estão procurando sua identidade. Logo, alguns sentimentos podem tomar grandes proporções, se não gerenciados adequadamente", afirma o Dr. Rodrigo Lancelote Alberto, psiquiatra e diretor técnico no Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) de Franco da Rocha e Hospital Estadual de Franco da Rocha, gerenciados pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim" em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.
Assim, as mídias assumem um papel de suprir essas necessidades e permitem aos jovens se conectar com o mundo de uma forma facilitada. No entanto, toda essa conectividade pode ser um estímulo negativo para aqueles que já lidam com questões emocionais e psicológicas e não recebem nenhum tipo de apoio.
Um estudo recente realizado pela Common Sense Media, nos Estados Unidos, constatou que os adolescentes consultam seus telefones, em média, mais de 100 vezes por dia. Durante o dia, também se observou que a maioria dos participantes que faziam parte do estudo recebeu mais de 237 notificações em seus celulares, destacando o uso desenfreado entre essa população.
"A partir das redes sociais, os jovens podem ter acesso a conteúdos impróprios e violentos, além de grupos que, muitas vezes, não contribuem positivamente para o seu desenvolvimento", explica o especialista.
O uso exacerbado do celular e das redes sociais pode, ainda, potencializar quadros de ansiedade, depressão e baixa autoestima. “A busca incessante por curtidas em publicações se torna uma forma de validação baseada no olhar do outro. Muitos jovens podem interpretar seu valor pela quantidade de curtidas em uma foto, por exemplo”, complementa Ana Paula Ribeiro Hirakawa, psicóloga do Centro Especializado em Reabilitação (CER) IV M’Boi Mirim, também gerenciado pelo CEJAM em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.
É importante salientar que, apesar desses fatores, as redes sociais também podem oferecer benefícios para os adolescentes. Através delas, é possível estabelecer conexões sociais, compartilhar experiências, encontrar apoio emocional em outros jovens que enfrentam as mesmas situações, trocar vivências, estudar e se preparar para o tão temido vestibular, por isso o seu uso não precisa ser totalmente restrito.
“Outro ponto importante é que elas podem proporcionar um espaço para expressão criativa e conexão com comunidades que compartilham interesses semelhantes. No entanto, é crucial equilibrar esses benefícios com os riscos potenciais para a saúde mental”, reforça a psicóloga.
Para um uso mais saudável desses ambientes virtuais, a profissional recomenda que os pais controlem o uso, estabelecendo limites claros e promovendo a comunicação aberta sobre experiências online. “Dialogar com o jovem sobre os canais que ele utiliza e o que está ocorrendo, acompanhando de perto, é muito importante, mas, claro, dando-lhe também liberdade.”
A definição de horários e regras para usar o celular pode auxiliar no controle e cuidado com esses jovens. “O tempo indicado de uso varia, mas recomenda-se que os adolescentes não ultrapassem 2 horas por dia diante das telas, a fim de garantir um equilíbrio entre a vida online e offline", ressalta Ana Paula.
Entretanto, para que esse hábito entre pais e filhos seja estabelecido, é fundamental que os pais promovam atividades offline, nas quais o adolescente possa participar, sem depender do uso das redes sociais. Também é importante dar o exemplo, evitando o excesso de uso do celular na frente dos filhos.
Quanto ao discernimento entre o real e o virtual, que muitas vezes pode confundir a mente desse grupo e gerar diferentes distúrbios, os pais podem ajudar incentivando a construção de senso crítico sobre as redes sociais, promovendo a autoaceitação e discutindo a diferença entre a representação online e a realidade, sempre que possível.
“Os pais podem e devem encorajar os adolescentes a desenvolver uma visão crítica, que os faça questionar sempre a autenticidade por trás das postagens e reconhecer que as redes sociais, frequentemente, retratam apenas um aspecto cuidadosamente selecionado da vida de alguém”, finaliza a psicóloga.
